sexta-feira, 9 de junho de 2017

Ceridwen

SÍNTESE


As referências mais famosas feitas e ela estão nas poesias medievais do País de Gales nas quais ela é descrita como a possuidora do Caldeirão do "Awen" (Inspiração Poética) e isso é ilustrado especialmente pelo conto de Taliesin onde seu servo (Gwion Bach) renasce como um poeta após ingerir o conteúdo do caldeirão (o "awen"). Os relatos medievais que a cercam a relacionam como o Lago Bala (Llyn Tegid) no Norte do País de Gales, normalmente mencionada como "A Encantadora" nas lendas.

ETIMOLOGIA


Pronuncia-se Keridwen [queriduin]

Sir Ifor Williams traduz as ortografias que podem estar relacionadas a Kerdwen que é Cyrridven que é citada no Livro Negro de Carmarthen e, segundo Williams, significaria "mulher torta". "Ven" provavelmente significa "mulher" ou "fêmea". Se Wen não é uma variação dos anteriores seu significado está atrelado a Gwyn que significa "justo", "amado", "abençoado" ou "sagrado" comumente sufixado aos nomes de mulheres santas (ex.: Dwynwen. Na etimologia e literatura datadas do século XIX os nomes Ked ou Ket e os que variam dos mesmos f
Ceridwen (ChristopherWilliams,1910)
oram considerados atrelados a Ceridwen.


LENDA


De acordo com os contos do final da Idade Média, especialmente o Conto de Taliesin, incluídos em edições modernas do Mabinogion, o filho de Ceridwen, Mofran (Também chamado de Afagddu), possuía uma feiura exorbitante e por isso Ceridwen buscou caminhos para compensar isso tornando-o sábio e fez uma poção em seu caldeirão para conceder o dom da sabedoria e inspiração poética ("Awen") que tinha que permanecer fervendo por 13 luas. Ela confiou a Morda, um cego, a vigilância da mistura e também para manter o fogo alimentado e confiou a Gwion (seu servo) a responsabilidade de mexer a poção, mas o jovem distraiu-se por um momento e terminou agitando demais a mistura fazendo com que 3 gotas respingassem sobre seu polegar que foi levado automaticamente a boca para aliviar o ardor da queimadura concedendo a ele toda a sabedoria que Ceridwen pretendia dar para o filho e o resto da poção que sobrara agora era veneno fatal. Gwion fugiu, pois sabia que sua mestra ficaria furiosa, ela o perseguiu e ele, utilizando-se dos poderes da poção, transformou-se numa lebre, ela tornou-se um galgo, então ele tornou-se um peixe e pulou no rio. Ela tornou-se uma lontra, então ele tornou-se um pássaro, logo ela tornou-se um falcão, por fim, ele - sem saída - transformou-se em um único grão, ela tornou-se uma galinha e com seus poderes feiticeiros encontrou o grão e o comeu. Mas o poder da poção não permitia que ele fosse destruído e quando Ceridwen ficou grávida ela sabia que a criação que nasceria seria Gwion e quis matar a criança quando ele nasceu, mas a beleza dessa criança era tão encantadora que fascinou a própria feiticeira que não conseguiu fazer-lhe nenhum mal por hora, mas conseguiu coloca-lo dentro de um saco de couro e lança-lo ao oceano, contudo, nem mesmo assim a criança morreu e foi resgatada em um costa galesa pelo príncipe Elffin Ap Gwyddno, então, com os anos o bebê tornou-se o lendário bardo Taliesin.

- Roberto Trinovantes

sábado, 20 de maio de 2017

RHIANNON - Nossa Padroeira

SÍNTESE:


> Senhora do Clã - Deusa Padroeira - Rainha dos Trinovantes (...)

Em algumas tradições de Bruxaria Tradicional a existência de uma divindade padroeira é muito comum, isso se dá por conta da natureza do ofício bruxo..., mas antes de prosseguir com esse texto preciso alertar para que não misture as coisas, alguns covens do Wicca escolhem uma divindade que vai está a frente do grupo ou realizam técnicas neo-xamânicas (viagens imaginativas ou jornadas psíquicas...) para afirmar que tal divindade se "revelou", na Bruxaria Tradicional é diferente, pois é uma questão de tradição mesmo e de evidências históricas. Não confunda também com divindade regente, existe uma diferença enorme entre um regente (lunar ou de uma casa) para um padroeiro.

Uma divindade padroeira rege o Clã e o Clã é dirigido pela sua essência espiritual e energética, é a força ancestral e divina que orienta e protege o Clã, e para ela que o ofício bruxo é primeiramente devotado dentro do Clã. A natureza do ofício bruxo está no culto afunilado onde o bruxo tradicional dedicava seu caminho na relação com ela, não enquanto servo (que isso esteja, claro!), mas enquanto um ser que admira outro e quer aprender com sua essência.

O símbolo-animal dos trinovantes é o cavalo, em suas moedas e em vários outros achados o cavalo está presente. Como se pode perceber este mesmo animal está presente no brasão do nosso Clã representando a manifestação de sua essência divina, ou seja, Rhiannon.


RHIANNON:


Ela é uma entidade muito importante no Mabinogi (conjunto de manuscritos medievais da história do País de Gales e Grã-Bretanha) aparecendo na primeira e terceira parte do mesmo. É caracterizada como uma mulher do Outro Mundo e mentalmente forte que escolhe o príncipe de Dyfed (oeste do País de Gales), Pwyll, como seu marido, preferindo ele em vez de outro homem a quem está prometida. Famosa pela sua inteligência, talentos de estratégia (especialmente na política), e, também por sua riqueza e generosidade. Seu primeiro filho com Pwyll foi o herói Pryderi que em outros tempos ocupa o trono de Dyfed. Décadas depois, Pwyll morre, e ela se casa com Manawydan estabelecendo laços com a família real britânica.

Na primeira parte do Mabinogi Rhiannon é fortemente relacionada com os cavalos assim como seu filho Pryderi, alguns estudiosos a relacionam com a deusa Epona por conta de algumas semelhanças como a questão de ser representada junto com seu filho como uma égua e um potro. Contudo, o historiador geral Ronald Hutton é cético quanto a este ponto.


MITO:


Mabinogi - Parte 1:

Sua história está atrelada ao ancestral monte Gorsedd Arberth localizado próximo ao centro de Dyfed (no País de Gales), ela aparece nesse monte para o príncipe Pwyll e sua corte enquanto uma maravilha prometida e também como um ser do Outro Mundo, ela apareceu montada em um cavalho branco brilhante como uma belíssima mulher vestida de brocado e seda dourada. Rhiannon é muito rápida ao galopar, por isso Pwyll seleciona seus melhores cavaleiros para competir com ela e todos acabam por perder, então o próprio príncipe decide competir com ela e também é vencido.

Ela revela a Pwyll que o procurou para casar-se com ele, e, claro, ele concorda, mas ela fala que estava prometida a outro homem chamado Gwawl, mas que não desejava casar com ele. Quando é chegado o dia da festa de casamento Gwawl disfarçado faz com que Pwyll dê sua palavra de que realizaria qualquer desejo dele, é quando Gwawl se revela e diz que seu desejo é Rhiannon. Ela é levada por ele, mas repreende Pwyll por suas estúpidas promessas. Talentosa quando o assunto é estratégia ela planeja com Pwyll e seus soldados uma emboscada para Gwawl no dia da festa do casamento com ele, no dia ela encanta um saco para que o que seja colocado dentro do saco cai dentro de um vácuo sem saída, Pwyll se disfarça de mendigo e entra na festa com o saco em mãos pedindo para que Gwawl coloque comida no saco, nesse momento os soldados de Pwyll cercam Gwawl que para salvar sua vida é obrigado a renunciar a Rhiannon e a sua vingança para sempre. Naquela mesma noite ela se casou com Pwyll e retornou para Dyfed como sua rainha.

Passam alguns anos felizes juntos até que Pwyll passa a ser cobrado pelos seus nobres para que gere um herdeiro, ele vinha tentando durante esses anos, mas ainda não havida dado resultado então os nobre pediam que ele deixasse Rhiannon. Pwyll se nega a deixar sua amada e três anos depois nasce Pryderi. A alegria não dura muito, pois, por conta de um deslize das cuidadoras do recém-nascido, o menino desaparece. As empregadas que cuidavam da criança, com medo de serem mortas, matam um cachorro e - enquanto Rhiannon dormia - melam o rosto da rainha com o sangue do cão fazendo com que no dia seguinte ela seja acusada de ter assassinado o próprio filho e ter cometido ato de canibalismo. O conselho do reino decide que Rhiannon deve ser punida e os nobres novamente protestam contra o casamento dela com Pwyll exigindo que ele a deixe, ele se nega e se oferece para ser punido no lugar dela, mas ela é punida a contar sua história todos os dias para os viajantes e, embora nem todos aceitassem, se oferecer para leva-los em suas costas como burro de carga.

O senhor de Gwent Is Coed, sudeste do País de Gales, Teyrnon é quem acaba resgatando o recém-nascido. Ele era dono de várias éguas que costumavam das a luz a potros na época das luas do sangue e da semente (Beltane), ao observar um potro que acabara de nascer viu uma mão monstruosa tentar capturar o animal e a cortou com sua espada, correu e viu que tinha ferido um monstro que escapou deixando uma criança recém-nascida. Ele acolheu a criança e junto com sua esposa quis dar ao menino um nome e o seu sobre nome: Gwri Wallt Euryn (Guri significa "o de cabelo dourado"), o menino cresce de sobre sobre-humana até Teyrnon - que, no passado, trabalhou para Pwyll - percebe a semelhança do menino com seu pai e resolve leva-lo para a casa real em Dyfed devolvendo-o.

Com seus filhos nos braços finalmente Rhiannon faz a sua nomeação de forma tradicional com um jogo de palavras que formara o nome Pryderi que teve origem em palavras como "cuidado", "perda", "entregue" ou "preocupação". Em seu devido tempo Pwyll morre e Pryderi assume o trono de Dyfed e casa-se com Cigfa de Gloucester.

Mabinogi - Parte 3:

Ao retornar das terras irlandesas Pryderi é um dos sete sobreviventes dos desastres ocorridos lá, ele e seu grande amigo Manawydan, juntos cumprem o dever de enterrar a cabeça do rei morto da Grã-Bretanha em Londres (Bran the Blessed) para manter o país protegido das invasões, contudo, o sobrinho de Manawydan, Caswallon, aproveitou a ausência deles e usurpou o trono da Grã-Bretanha. Mas Manawydan estava cansado de guerras e não desejava travar batalhas pelos seus direitos reais, Pryderi o recompensou com seus feitos dando-lhe terras em Dyfed e tramando o casamento do melhor amigo com sua mãe, Rhiannon, que casaram-se com amor e respeito. Pryderi herdou de sua mãe os talentos estratégicos na política e teceu homenagens ao usurpador (Caswallon) em Dyfed para evitar sua qualquer hostilidade.

Nessa parte do Mabinogi Manawydan torna-se, junto a Rhiannon, Pryderi e Cigfa, um dos personagens principais.


ETIMOLOGIA:


Rhiannon deriva, provavelmente, do brittonic reconstruído Rigantona que deriva de Rigan - rainha.


ENDEUSADA:


Rhiannon está tradicionalmente atrelada a três pássaros míticos conhecidos como "aqueles que acordam os mortos e acalmam os vivos até eles dormirem", são os Adar Rhiannon (pássaros de Rhiannon) que são citados na segunda parte do Mabinogi nas tríades da Grã-Bretanha e de Culhwch ac Olwen, e, para muitos, esse é um forte indicio de que Rhiannon é uma deusa do antigo politeísmo celta. Há, claro, autores como WJ Gruffydd (escreveu Rhiannon, 1953) e Proincias Mac Cana  que afirmam haverem mais alegações que testificam este fato.


- Roberto Trinovantes

domingo, 14 de maio de 2017

Beli Mawr

PAN-CÉLTICO:


Quando é dito que uma divindade é "pan-céltica" isso quer dizer que esta divindade existe em várias tradições célticas, o nome da divindade geralmente é semelhante, mas ainda é diferente assim como é diferente também a forma de compreendê-la e de trabalhar com ela naquela tradição, ou seja, diversos aspectos energéticos mudam em virtude da ancestralidade daquela tradição. Por isso, o sincretismo não é algo positivo, mesmo que seja dentro do mesmo panteão, é algo que enfraquece a manifestação da divindade a nível energético e espiritual. Não é divindade que é "fraca", mas o que o humano faz com as memórias ancestrais referentes a mesma (sincretismo) dissipa a ligação do conjurador com a verdadeira essência antiga daquela divindade.

SÍNTESE:


Beli Mawr é conhecido em outras tradições como Belenos, Belinus e Bel. Se tornou o patrono da cidade italiana de Aquileia no séc. III, suas memórias mais antigas são irlandesas onde é compreendido como deus-Sol, na Tradição Britânica Beli é o primeiro ancestral, ou seja, o primeiro a tornar-se um espírito da terra estando fortemente atrelado ao Reino dos Mortos e ao Outro Mundo. Na Tradição Britânica a lua que ele rege desponta sempre no período do Beltane, mas muitos o associam a este festival do fogo de forte ancestralidade irlandesa em virtude das três primeiras letras do título: BEL. Seu animal é o cavalo e seu símbolo é a roda de oito raios.

ANTIGOS CULTOS:


Existem mais de 50 inscrições dedicadas a este deus que são encontradas principalmente em Aquileia, Noricum e Galia Narbonensis, mas também na Grã-Bretanha e Ibéria. As representações da imagética desse dele geralmente o retratam com uma fêmea ao seu lado que estudiosos pensam ser a deusa Belisama (ao meu ver a teoria só está errada na escolha da divindade feminina).

Belenus é identificado como deus nacional de Noricum nos inscritos de Tertuliano datados de 200 AEC. No século III os imperadores romanos Diocletian e Maximian dedicaram inscritos a este deus em Aquileia. Nas cidades de Altinum, Concordia e Lulium Carnicom foram encontradas mais seis inscrições votivas à Belenus. Maximus Thrax sitiou a cidade de Aquileia em 238 com batalhões de soldados que afirmaram ter visto uma aparição do deus defendendo a cidade.


ETIMOLOGIA:


Existem diversos apontamentos incertos sobre a etimologia do nomes deste deus. A mais coerente é: Guelenos do proto-celta que significaria "fonte, poço" o que pode ter relações com fontes de conhecimento, o Outro Mundo e, com certeza, com a sabedoria ancestral. Beli Mawr, do galês, significa "Beli, o Grande".


NOMES E SUAS DERIVAÇÕES:


Llywelyn é um nome galês que combina Llew e Beli.
Cunobelinus foi o nome de um rei britânico que significa "cão de Belinus", houve também um rei chamado Belinus em Geoffrey of Monmouth que é citado em Histórias dos Reis da Grã-Bretanha.
Diodorus Siculus nomeado Cornwall (Cornovii que está relacionado com "chifre") Belerion foi o primeiro nome de lugar gravado nas Ilhas Britânicas.


- Roberto Trinovantes

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Arianrhod

Síntese


Pronúncia Original: Aryanrod

Citada (assim como seu filho Lleu) na quarta parte do Mabinogi (conjunto de manuscritos antigos da Grã-Bretanha referentes a mitologia local) onde é contado que ela (Arianrhod) é filha da deusa-mãe Dôn e irmã de Gwydion e Gilfaethwy, e também mãe de Dylan (deus dos mares superficiais) e Lleu (deus solar da luz), ambos nascidos de forma mágica.


Etimologia


Arianrhod (do galês arian "prata", e rhod "roda") com raiz no Proto-Celta Arganto-rotã que significa "roda de prata".


MITO


Na quarta parte do Mabinogi nos é contado que o tio de Arianrhod, Math Math, morreria se não mantivesse seus pés sobre o colo de uma virgem quando não estivesse em guerra, Gwydion sugere a sua irmã Arianrhod que faça o teste de virgindade para a função, o tio determina que isso deverá ser feito passando por cima de sua vara mágica, contudo, quando ela o faz termina por dar a luz a Dylan e, em seguida, a uma entidade menor que mais tarde tornar-se-ia Lleu, isso a deixou muito envergonhada e ela saiu do local correndo e deixando os dois filhos para trás. Dylan une-se ao mar por ser um espírito pertencente ao mesmo, faz isso logo após passar pelo ritual de abertura (um tipo de batismo). Lleu era muito pequeno e por isso foi guardado em um baú pelo seu tio Gwydion só saindo de lá quando cresce sobrenaturalmente em quatro anos tendo o tamanho de uma criança de oito anos.

Gwydion leva Lleu ao Caer Arinrhod, ou seja, a casa de sua irmã, mas ela não gosta da visita, pois ainda lembra-se da vergonha que passou naquele teste de virgindade. É nesse momento que ela lança sobre o menino um tynged (ou geis, maldição) para que ele nunca tenha um nome, contudo, mais tarde Gwydion contorna isso com suas armações e disfarces, assim como o faz com as outras duas tyngeds que ela vem a lançar sobre o filho para que ele não tenha armas e também para que não tenha uma esposa, ambas contornadas pelo seu irmão Gwydion (vide o mito de Lleu nesse mesmo blog).

- Roberto Trinovantes
Magister do Clã Trinovantes

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Iª Integração do Clã Trinovantes


1. Para Recife e Região (Pernambuco)


A Integração (recepção de novos membros) é realizada em 3 estudos introdutórios à Bruxaria Tradicional e à Tradição Britânica Continental:


1. "O que é Bruxaria Tradicional?"

Abordagem introdutória, contudo, mais aprofundada e interativa a respeito das variantes do termo Bruxaria Tradicional (BT), desde seus ramos históricos (Clássica/Folk, Medieval, do Séc. XVII, Mesclada ou MesoBT e Tradicionais Modernos) até suas diversas Tradições. Diferenciação entre Wicca (tradicional ou não) e BT.



2. "Significado do Paganismo"

Nesse estudo falaremos sobre o uso do termo "pagão" e onde ele realmente se insere tradicionalmente, mergulharemos na epistemologia do politeísmo nos afastando das ideias universalistas, dualistas ou monoteístas sobre os Deuses, discutiremos sobre vertentes politeístas e politeísmo tradicional e sua natureza plural-divina.


3. "O Ofício Bruxo"

No terceiro estudo começamos a entrar nos mistérios da BT, digamos que o caminho começa a ser iluminado em seu início, é nele que desconstruiremos diversos entendimentos modernos sobre o que é "ser bruxo/a" e abordaremos tópicos polêmicos como "a Bruxaria é uma religião?", "há sacerdócio na Bruxaria?", "o que a Bruxaria tem a oferecer para o mundo?", "Há uma missão bruxa?" (...). A desconstrução se dá principalmente na separação e diferenciação entre a religião estatal/social e o ofício bruxo.

https://www.facebook.com/groups/btrecife/

DO PRAZO: Novos interessados/as podem se juntar a nós até o estudo 3, contudo, é mais favorável estar conosco o mais cedo possível para compreender melhor como as coisas funcionam na Bruxaria Tradicional, na Tradição e no Clã.


REQUISITOS: Para participar não é cobrado nenhum custo apenas o compromisso sincero dos interessados em estar conosco não somente nesses 3 primeiros estudos, mas também nos demais que continuarão a ocorrer de forma mais profunda mensalmente e sempre aos domingos (os ciclos de estudos teóricos do clã duram em média um ano e meio, pois a Bruxaria Tradicional é mais prática e depois desse período conteúdos mais avançados são aprendidos nos rituais e festivais).

PRÁTICAS: após tornar-se integrante oficial do clã (após a realização dos 3 estudos ocorre um ritual que oficializa isso) o oficiante não irá somente a estudos mensais teóricos, mas também a rituais de lua cheia (as datas são alinhadas com o dia em que ocorre o estudo do mês) e quatro festivais anuais (Imbolg, Beltaine, Lughnasadh e Samhain).


2. Outras Regiões do Brasil

Interessados/as de outras cidades e estados do Brasil que gostariam de fazer parte do Clã Trinovantes e da Tradição Britânica Continental. As inscrições estão abertas para (apenas para pessoas de fora de PE) participar do grupo à distância de formação e iniciação, o objetivo é levar a Tradição a outras partes do Brasil. Claro que haverão alguns compromissos presenciais que envolvem vindas a Recife que será acordado em diálogo com os interessados/as. Quem estiver sinceramente interessado/a, por favor, contatar o Magister Roberto para se inscrever na turma (o contato por ocorrer através do grupo citado a cima, pela página oficial do Clã no Facebook ou pelo perfil pessoal do Magister). 

As inscrições vão até 07/05/17.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

4 Casas

CORNIX - LUPUS - ANGUIS - RANAE



RELAÇÕES COM HARRY POTTER?

Depois de entendermos as 13 luas podemos compreender o que são as 4 Casas. Pouco se fala sobre elas, mas a escritora inglesa J.K. Rowling - com toda certeza - se inspirou fortemente no imaginário bruxo de sua região, vários elementos (muitos mesmo!) presentes nos livros e filmes de Harry Potter têm origem no folclore britânico. Obviamente a autora não foi totalmente fiel ao folclore, ela foi bem criativa, mas as referências foram o suficiente para conservadores cristãos que conheciam o folclore britânico temerem e condenarem suas obras e, principalmente, a transformação as mesmas em filmes.

 COMPARANDO...

Claro que nas Casas originais não existe essa questão de uma casa ser um aglomerado de gente que tende a ser boa e outra que inclui pessoas mais más, isso já foi uma abordagem meio maniqueísta da autora. A Casa da Serpente (posta no filme como "Sonserina") não é um "antro" de bruxos do mal, na verdade essa questão de a "serpente ser o mal" é algo bem cristão que tem suas referências no conto bíblico de Eva e o fruto proibido. Para nós a serpente é um símbolo de saber, mas, como cada uma das quatro Casas, há sempre um lado mais peculiar, cada casa possuirá o seu e a da Serpente não foge a essa regra. Fazendo uma breve comparação ilustrativa e lúdica poderíamos dizer que a Casa do Corvo corresponde a Grifinória (corajosos e determinados), o corvo está atrelado a batalha e a guerra, é a casa dos bruxos guerreiros que lutam pelos seus objetivos; a Casa da Serpente com certeza é correspondente a Sonserina (astutos e ambiciosos), a serpente está atrelada a dedicação ao saber, é a casa dos bruxos que se doam muito para obterem o conhecimento; a Casa do Lobo corresponderia a Lufa-Lufa (leais e companheiros), o lobo está atrelado a irmandade e ao coletivismo, não é por acaso que os lobos se organizam em matilhas e que o cão - animal de instinto semelhante - é considerado o "melhor amigo do homem"; a Casa do Sapo corresponderia a Corvinal (inteligentes e perseverantes), o sapo está atrelado aos mistérios da morte e da terra, geralmente os nativos dessa casa são os melhores em reconhecer o valor do ofício nas suas vidas e se dedicam a ele de forma muito valorosa.

CHAPÉU SELETOR

Claro que na Tradição Britânica nunca houve um chapéu pontudo que falava para qual Casa você pertenceria, essa foi uma bela invenção da imaginação da autora (creio). Na Tradição a lua que você nasceu aponta para uma das casas, o ano de 13 luas é tradicionalmente recortado em 4 fatias, apenas uma das fatias contém 4 luas enquanto as outras incluem 3 luas cada. Então quando o Magister do Clã faz o cálculo sobre a sua lua de nascimento muitos detalhes são revelados, desde sua fid, sua árvore/planta, ave, elemento, divindade regente e, inclusive, a Casa que você pertence dentro do Clã.

Cada Casa está atrelada a uma direção cardeal e é regida por uma divindade específica, esta divindade rege a Casa como um todo no sentido mágico, ou seja, a divindade regente (que rege a lua de seu nascimento) rege sua vida e personalidade, então você pode se dizer filho dela, mas a divindade que rege a Casa é mais que uma mãe ou pai, seu significado está mais atrelado o você dentro do ofício, tradição, clã, ou seja, você dentro da bruxaria, suas potencialidades mágicas. resumindo: persona - divindade lunar / ofício - divindade da Casa.

As Casas também estão atreladas a épocas específica do ano, isso explica a ligação das mesmas com luas específicas, e dá sentido as fatias temporais que mencionei a cima, alguns livros e blogs sobre a Tradição Britânica vão se referir aos signos das Casas apenas como 'regentes' de épocas sazonais e direções cardeais (identificadas pelas runas e constelações), pois o conhecimento sobre as Casas é algo mais restrito a forma de cada clã trabalhar.

REGENTES DAS CASAS

Casa do Sapo: Dôn (Mãe Terra ou Deusa Mãe)
Casa do Lobo: Dylan (Regente do Mar superficial)
Casa da Serpente: Cernunnos (famoso deus da virilidade e mistérios)
Casa do Corvo: Brigit (na Tradição Britânica é a deusa guerreira, a flecha de fogo)


CURIOSIDADE (Runas?)

Se você já pesquisou sobre BT sabe que é raro haverem sincretismos e, obviamente, uma Tradição Britânica possui uma ancestralidade e um folclore celta que se utiliza de símbolos como o triskle, trisketa, espirais e Ogam (fedha), mas e as runas presentes na imagem das Casas? Pois é, há um sincretismo histórico da Tradição Britânica com os anglo-saxões, inclusive, segundo Edred Thorsson, existe um futhark específico que é anglo-saxão. Runas são sim utilizadas em nossa Tradição.


- Roberto Trinovantes
Magister do Clã Trinovantes

terça-feira, 11 de abril de 2017

Nova Tribo de Dana (História do Clã)

DO WICCA À BRUXARIA TRADICIONAL


Para falar sobre o Clã precisarei falar um pouco sobre mim, pois fui - embora despretensiosamente - o ponto de partida da trajetória. A verdade é que nunca quis liderar, sempre quis ser liderado (hoje não mais), ou então que a liderança fosse só uma fase para um futuro, e harmonioso, coletivismo. Resumindo, nunca quis essa responsabilidade para mim, mas o destino me levou a ela de modo quase obrigatório várias vezes, nunca encontrei em Recife grupos receptivos e/ou que me cativassem com suas propostas de culto e práticas, por isso, me via na escolha singular de buscar uma perspectiva na qual me encaixasse, o que não foi fácil, eu mudei muito, transitei muito até alcançar a linha de chegada e - provavelmente - por isso fui muito mal interpretado pela comunidade neopagã. Eu comecei como wiccano, tinha 13 anos de idade, sozinho iniciei minha busca lendo revistas pouco confiáveis, não demorou muito até começar a fazer contatos pela internet, inicialmente compartilhava meus estudos apenas com uma amiga e com ela começou o que futuramente seria o Coven Nova Tribo de Dana. A ideia do Coven nasceu por volta de 2008, mas foi em 2010 que o considerei fundado com seus devidos integrantes e organização estrutural básica, e, embora estivesse no posto de líder, ainda tinha muito o que aprender, uma das coisas que precisava era saber liderar, mas eu não tinha nem 20 anos de idade, acredito que a imaturidade não ajudou.

Quando decidi extinguir o Coven estava, na verdade, entrando na minha jornada de transições, embora me sentisse completo trabalhando com deuses celtas, quis buscar outros panteões, filosofias e experimentos dentro do próprio Wicca. Como sempre, ansiava por não ser um líder, então nesse período passei por alguns grupos e cogitei entrar em outros que, embora tenham me influenciado, não permaneci e voltei a liderar um grupo wiccano chamado CEW (Círculo Eclético Wiccan). Nos utilizávamos do termo 'eclético' muito mais na perspectiva de mistura de panteões e não na perspectiva histórica do Wicca, novamente amigos me levaram a esta ideia, mas essa mistura toda me fez sentir deslocado e quis me enquadrar em alguma das vertentes do Wicca, sugeri ao grupo o Dianismo de Zsuzana Budapeste, dessa forma o CEW transformou-se em grupo de Wicca Diânico que incluía sete panteões diferentes em seu culto e, conforme nos aprofundávamos na filosofia diânica entendíamos que não precisávamos ser wiccans para tal. Nesse período nos referíamos a nós mesmos como "bruxaria diânica" e foi por conta dessa abordagem que algumas pessoas começaram a questionar ou sugerir que éramos um tipo de "Bruxaria Tradicional", realmente não tinha NADA A VER a "bruxaria diânica" com a Bruxaria Tradicional (não tinha e nunca terá!), mas isso despertou uma curiosidade gigantesca em mim e é graças a esta curiosidade que chegarei - no fim desta história - a minha linha de chegada.

Tal curiosidade me levou - enquanto líder do grupo - a promover estudos intensivos sobre Bruxaria Tradicional entre os integrantes, o objetivo era nos aproximarmos cada vez mais da coerência do que os havia sido sugerido, mas me apaixonei perdidamente pela Bruxaria Tradicional, me senti em casa, acolhido, enraizado... como se tudo estive, agora, encontrando o seu lugar e ficando mais claro, cristalino e - acima de tudo - encaixado. Notei de imediato que a BT era totalmente diferente do dianismo, então sugeri ao grupo uma nova transformação onde deixaríamos de ser neopagãos e passaríamos a ser bruxos tradicionais, mas claro que ainda tínhamos que estudar muito até isso ser real e não poderíamos mais possuir um grupo diânico. Os que estavam me acompanhando nos estudos sobre BT aceitaram tranquilamente, mas os ausentes se revoltaram contra tal modificação e, enquanto nos tornávamos um grupo experimental voltado para a BT chamado "Ordem Tradicionalista de Bruxaria Pentacular - OTBP" os outros abandonavam o grupo e registravam em cartório no título do grupo diânico como posse deles, não vou citar o nome do grupo, mas, se não me engano, até hoje eles têm uma page no Facebook se utilizando do título roubado.

A OTBP ainda possuía muitas referências neopagãs e esotéricas que tinham origem nos grupos que passei (ou observei) e nas fontes de conhecimento facilmente disponíveis, inclusive havia sido acusado de plágio por pessoas da comunidade neopagã por conta de tais referências (que eu julgava universal e não singulares ou originais de cada grupo). Uma das referências mais estranhas da Ordem era possuir culto em cinco panteões distintos que mais tarde - com a avanço dos estudos - tornaram-se Tradições (céltico-irlandesa, nórdico-islandesa, egípcia, ateniense e italiana), mas, infelizmente, a Ordem se tornou uma espécie de "grupo mediúnico" onde manifestar dons e incorporar espíritos era o foco de muitos (alguns fingindo, claro!) e isso se tornava a atração principal dos encontros tirando totalmente o foco dos estudos (que eram extremamente necessários para um grupo ainda cheio de coisas a modificar para se aproximar da BT). Logo a Ordem também foi extinta, estava em total desordem e cheia de brigas egocêntricas por poder e liderança, isso em razão de (eu) ter desejado dividir a liderança e tornar o grupo mais coletivista e/ou democrático, quando a bagunça se instaurou me vi obrigado a voltar a ser o único líder, mas não deu certo, fui acusado de ter "ambição de poder". Com o fim da Ordem aprendi que não posso fugir da liderança, creio que o destino estava tentando me ensinar isso com todos esses eventos. Mas não foi dessa vez que tornei a liderança uma "missão de vida".

Enquanto estive na Ordem fui aquele que resgatava as tradições por meio de pesquisas e mais pesquisas, noites a fio em claro, prazos estabelecidos, pressa e muita gente se chateando com as mudanças constantes. Me sentia muito sobrecarregado e solicitei ajuda muitas vezes, mas as pessoas sempre fraquejavam nesse aspecto, houveram apenas duas tradições que não ficaram completamente sobre minha responsabilidade: a do Baixo Egito e a Italiana (mais tarde tive que tomar posse da segunda por algumas razões) que foram inicialmente resgatas por outra pessoa (a do Baixo Egito totalmente). Com o fim da Ordem desejei me dedicar apenas a uma tradição, as pessoas que ficaram do meu lado estavam esperando um posicionamento de líder referente ao que seríamos agora, então optei por formarmos um grupo de estudos sobre a Tradição Nórdico-Islandesa em razão de ter sido uma das tradições que mais me dediquei enquanto estive na Ordem, minha paixão pela cultura celta persistia, mas me sentia afastado dela por algum motivo.

O grupo voltado para a Tradição Islandesa durou apenas meses, nesse período promovi um curso de runas, rituais e festivais reservados e, consequentemente, um estudo mais prático sobre os aspectos desse caminho. Mas 2016 foi um ano muito turbulento para mim nas questões pessoais, tinham decisões a tomar e coisas a organizar, e esta é justamente a palavra, organização foi o que faltou nos estudos e abordagens do grupo, fiquei tão saturado com a turbulência que se instaurou também dentro do grupo (além da bagunça que estava a minha vida) que joguei tudo pro alto, desisti dos aprendizes (alguns estavam muito revoltados, inclusive) e extingui o grupo. Era realmente o que precisava naquele momento no qual um namoro de 3 anos chegava ao fim, perdera amigos que faziam parte daquele relacionamento, desistia do curso que estava me graduando na universidade, entre outras coisas... Mas meus ex aprendizes não entenderam essas atitudes impulsivas e conspiraram para criar um novo grupo na mesma perspectiva e com os mesmos aspectos, embora só tenha durado meses (o grupo no qual eu os liderava), ou seja, eles sabiam de pouquíssimas coisas (principalmente no que se refere ao que é BT). Claro que nada justifica certas atitudes impulsivas, mas, comicamente, isso me trouxe coisas muito boas.

Voltando um pouco na história... a OTBP se organizava como um tipo de pirâmide onde o topo era a Tradição Céltico-Irlandesa (que foi a primeira a ser resgatada e estudada) e, por isso, desvendou-se o Clã Trinovantes que foi descoberto enquanto origem ancestral da maioria dos integrantes da Ordem (isso tem relação com a árvore genealógica e a migração dos celtas para Portugal e, posteriormente, de muitos portugueses para o Brasil Colônia - Nordeste muito bem incluso), por isso, o Clã era um núcleo de elite dentro da Ordem onde só os merecedores eram inclusos. Com o fim da Ordem o Clã ficou esquecido até o fim de 2016 quando tive um contato avassalador com uma deusa celta que marcou minha vida por muitos anos (Brigit), estava ainda tentado me reencontrar em meio as turbulências quando ela veio a mim e apontou o caminho, me orientou e falou sobre o Clã e sua importância, além, é claro, de esclarecer diversas coisas sobre ser líder e tudo o que passei. Então retomei o Clã em 2017 divulgando integrações periódicas e me aprofundando nas verdadeiras raízes tradicionais do mesmo, ou seja, a Tradição Britânica Continental.

Hoje tenho a liderança como uma missão de vida e tenho certeza que os deuses e o destino querem isso de mim, antes via como um fardo, hoje vejo como uma razão para prosseguir no politeísmo e na Bruxaria Tradicional (um isentivo a mais). A energia da Tradição Britânica me trouxe uma paz que nunca tive, uma tranquilidade interior que me permite observar tudo com mais calma e ponderação, acho que talvez esteja mais próximo da maturidade de um verdadeiro Magister (cargo de liderança na BT), acredito que a idade também ajudou, pois diversas outras escolhas pessoais também foram feitas com a mesma tranquilidade e observação. Tudo fez sentido quando fiz os cálculos tradicionais e descobri que, na Tradição Britânica, a deusa Brigit me rege na prática mágica, isso realmente explica como tudo começou no Wicca com a existência do Coven Nova Tribo de Dana e como tudo se encaixa agora na Bruxaria Tradicional com o Clã Trinovantes. Sinto que voltei ao meu lugar, às minhas raízes, ao meu lar, sei que precisei sair dele e aprender com toda essa jornada cheia de transições, mudanças e turbulências, creio que é isso que explica essa paz interna que sinto: estar em casa, pois o lar é sempre um lugar onde estamos acolhidos e protegidos. Obviamente não é mais um "lar" wiccano, o que faz me sentir em uma outra "casa", maior, mais organizada, com outros móveis, pintura, portas e cômodos, mas com algumas semelhanças, embora distantes, mas muito importantes. A essência do que era buscado no NTD é finalmente palpável no Clã Trinovantes.


Atenciosamente,
- Roberto Trinovantes

segunda-feira, 10 de abril de 2017

13 Luas

CALENDÁRIO TRADICIONAL

A Tradição Britânica Continental se divide em algumas vertentes, a principal delas é a clássica (a do Clã Trinovantes), mas a mais conhecida é a "medieval" popularizada por Robert Cochrane, Evan Jones e Doreen Valiente que preservou diversos aspectos folclóricos da tradição clássica, mas incluiu diversos sincretismos e adequações temporais que separam a Tradição Britânica em duas vias históricas. A segunda via - medieval - ainda se separa em 3 ramos: os pellars (que sincretizaram com o cristianismo na Cornuália), os cainitas (que sincretizaram com aspectos diabólicos e sumérios) e os modernistas (que 'renovaram' diversos aspectos da tradição medieval fundindo-a com as ideias defendidas por Gardner, especialmente em sua criação: o Wicca). Robin Artisson cita os pellars no artigo que busca diferenciar o Wicca da Bruxaria Tradicional Britânica; Michael Howard, Gemma Gary e outros autores abordam o culto cainita em diversos livros, até mesmo Gilberto Lascariz aborda este tema em seu popular livro "Ritos e Mistérios Secretos do Wicca"; os modernistas são muito bem representados pelo livro "Witchcraft - A Tradition Renewed" (conhecido como "Feitiçaria - A Tradição Renovada") de Evan John Jones e Doreen Valiente. 
Existem diferenças óbvias nas crenças medievais e clássicas (e mais ainda quando nos referimos a um 'tradicional moderno') uma das mais importantes de ser ressaltada é a forma como se conta o tempo: Calendário. Na perspectiva clássica datas como 02 de fevereiro, 01 de maio, 01 de agosto e 31 de outubro não são tradicionais, os quatro rituais dos festivais tradicionais (Imbolg, Beltain, Lughnasad e Samhain) não são realizados em consideração a estas datas e sim orientados pelo astro que orienta a passagem do tempo para as crenças clássicas: a Lua! Aspecto este herdado dos antigos bretões e aperfeiçoado pelos irlandeses em relação a sincronia com os festivais, 13 luas ocorrem ao logo do ano, mas nem sempre. A 13ª lua é obviamente rara e sempre foi, pois, diferente dos cálculos modernos sobre as luas célticas, no tradicionalismo britânico uma das estações determina o final e o início do fluxo lunar, por isso é comum o ano possuir 12 luas, 3 por época/festival. A 13ª lua é um marco muito profundo, muito raro e muito poderoso, regida pelo carvalho (que é o rei das árvores) e pela fid Dair (do Ogam).

Podemos dizer que acima da linha do tempo lunar está a linha do tempo sazonal, pois é a partir do hemisfério que as luas se organizam, embora muitas delas não mudem de lugar em relação a isso, apenas as mais ligadas ao clima e a agricultura, contudo, os festivais não mudam de época por causa das estações, ou seja, não há roda sul ou norte nem mesmo para os 'tradicionais modernos' da Tradição Britânica Continental.

Cada lua é regida por uma divindade específica, e está atrelada a uma fid (do Ogam), ou seja, cada lua está ligada a uma árvore, um pássaro, uma energia e manifestações singulares. É importante salientar que, nem mesmo, os 'tradicionais modernos' da nossa tradição celebram o que os wiccans chamam de 'lua negra', ou seja, nossos únicos rituais lunares de culto ocorrem na lua cheia, em outras fases da lua ocorrem rituais de magia, feitiços e etc., mas não possuem uma natureza muito devocional. A baixo segue a lista de luas e um pouco sobre cada uma para você se familiarizar um pouco:

Lua da Benção (plantio) - fid: Beith
Lua da Sorveira (equilíbrio) - fid: Luís
Lua da Cevada (sabedoria / fim da 1ª parte do ano) - fid: Nion
Lua do Sangue (mudanças) - fid: Fearn
Lua da Semente (previsões) - fid: Sail
Lua da Neve (recomeço / fim da 2ª parte do ano) - fid: H-uath
Lua do Azevinho (luta e vitória) - fid: Tinne
Lua da Colheita (adivinhação) - fid: Coll
Lua dos Ventos (prosperidade / fim da 3ª parte do ano) - fid: Muin
10ª Lua do Vinho (fertilidade) - fid: Gort
11ª Lua da Flor (saúde) - fid: nGéatal
12ª Lua Brilhante (paixão) - fid: Ruis
13ª Lua do Carvalho (perseverança e sucesso) - fid: Dair

*OBS: a 4ª parte do ano é fechada junto com o ano como um todo com a 12ª ou 13ª lua, depende do ano, isso varia.


Na Bruxaria Tradicional Clássica como um todo o horóscopo ou a astrologia ocidental ou oriental não são levadas em conta, ou seja, não importa seu signo solar, ascendente ou descendente, e sim apenas em qual lua você nasceu. Nós sabemos que a lua influencia marés, ciclos menstruais e vários aspectos da personalidade humana (e comportamento animal), ela muda de fases assim como nós mudamos ao longo da vida, por isso, para os celtas antigos era a lua que falava de cada persona e não um complexo emaranhado de signos e planetas. É fato que no tradicionalismo as coisas são mais práticas e diretas, mais preto no branco com pouquíssimos tons de cinza, não há muito o que se "filosofar" ou discutir, pois as tradições são como flechas, certeiras e vão direto ao ponto. Através da lua que o indivíduo nasceu sabemos a qual planta/árvore sua energia está ligada, qual divindade o rege na Tradição, qual pássaro está atrelado a ele, quais animais, quais elementos da natureza e quais influências de personalidade. O Magister faz esse cálculo complexo uma vez que nem todo ano teve 12 luas, e a contagem das luas influencia em anos posteriores e anteriores, para entender mais leia o artigo "Nossos Deuses".

ANOS DE TREZE LUAS: 2018, 2021, 2024...

- Roberto Trinovantes
Magister do Clã Trinovantes

sexta-feira, 24 de março de 2017

Nossos Deuses

ARTIS DEOS


Como Vemos os Deuses

A forma como vemos nossos deuses é peculiar e diferente do entendimento da bruxaria moderna e do neopaganismo, porém comum nas tradições de Bruxaria Tradicional mais animistas. Cremos que a essência real dos deuses está muito mais em suas manifestações animistas, ou seja, zoomórficas, e é através dessas manifestações que os mesmos trabalham conosco em nossos rituais, festivais e ritos diários. Não cremos que hajam arquétipos, ou seja, que um deus do mar britânico é correspondente ao deus do mar grego, isso é neossincretismo e não tem espaço para isso na Bruxaria Tradicional, cremos na singularidade de cada divindade e na pluralidade de divindades e panteões, afinal, se somos vários porque os deuses haveriam de serem somente dois ou - pior - somente um?! Cremos que a própria diversidade das existências, espécies, cores, raças, culturas e credos (...) são materializações dos nossos criadores e por esse motivos existem tantas diferenças naturais entre nós. Esse é o verdadeiro pensamento POLITEÍSTA tradicional. A crença new age de que deuses são arquétipos se enquadra em algo mais esotérico e não politeísta de fato.

Os deuses do nosso ofício e tradição (me refiro ao Clã Trinovantes e a Tradição Britânica Continental) possuem manifestações pouco humanas e eles - por diversos motivos - as preferem. Geralmente estão incorporados a animais, manifestações literais da natureza e/ou aspectos mágico-espirituais misteriosos. A humanização dos deuses veio com o impulso a civilidade e a influência de culturas romanas e gregas (onde os deuses são extremamente humanos nas religiões sociais), tradicionalmente os deuses são muito mais primitivos, selvagens e etéreos do que imaginam ou cogitam os inúmeros autores de livros modernos sobre mitologia e neopaganismo.

É comum perdermos as contas de quantos deuses são/eram cultuados nas religiões sociais politeístas da Antiguidade, dizem que há deuses que regem coisas fúteis como a maçaneta de uma porta ou a fechadura da mesma. Quando antropólogos afirmam que deuses são criações humanas eu refuto dizendo que, realmente, não são todos, mas muitos deuses foram criações humanas com toda certeza e um bom exemplo disso é a religião social romana, eu não teria paciência para cultuar aqueles deuses todos! Em nosso ofício e tradição existem apenas 20 deuses, isso não quer dizer que todos os deuses que não estão entre os 20 inexistem, isso quer dizer que apenas esses 20 fazem parte do nosso culto e da nossa devoção bruxa.

Os 20 Deuses

ARAWN: é o guardião e governante do Outro Mundo (onde existem pelo menos 4 reinos distintos paralelos ao nosso) e do Reino das Fadas (Caer Siddi).

ARIANRHOD: é a senhora das mudanças, regente da magia e seus mistérios, é uma das guardiãs da Iniciação e das passagens.

ARDDHU: guardião dos mistérios obscuros da natureza e dos encontros da mesma com o Outro Mundo, atrelado a morte e a guerra é o Grande Corvo, conhecido como "Green Man" (o Homem Verde) é retratado como um homem com a face coberta de folhas verdes.

BRIGIT: guardiã das batalhas na Tradição Britânica Continental é cultuada como a deusa guerreira e curandeira, a luminosa e poderosa que junto ao Grande Corvo entra e sai dos campos de batalha favorecendo vitória aos guerreiros. Inspiradora dos Bardos (poetas) e guardiã do fogo da coragem, bravura e renovação.

BLODEUWEDD: deusa da paixão e dos sentimentos perigosos, misteriosa e ardilosa, rege estratégias e a sabedoria dos segredos, conhecida também como a Coruja.

BRAN: guardião da guerra como um todo, porta o Caldeirão do Renascimento (e isso está relacionado com a morte em batalha, nada mirabolante), concede proteção aos guerreiros, rege os corvos, em tempos de guerra canções o louvavam como o Gigante.

BRANWEN: uma das deusas mais importantes para os bruxos da nossa Tradição, ela rege a grande "sabedoria do carvalho", principalmente em assuntos relacionados a justiça, a magia, a perseverança, a liderança, a força de vontade e também ao amor.

BELI:  é um dos poucos deuses pan-célticos (que possui correspondente em outras tradições célticas) cujos correspondentes são Belenos e Bilé. Na nossa Tradição é cultuado como o maior e mais antigo ancestral, rege a adivinhação e a profecia.

CERRIDWEN: em nossa Tradição a regente dos Bardos é Cerridwen e não Brigit que apenas os inspira, os Bardos do País de Gales e da Grã Bretanha refiram a si mesmos como "Cerddorion" (filhos de Cerridwen). Para nós ela é uma das divindades mais densas do nosso ofício, ela porta o Caldeirão do Ofício (e isso quer dizer muita coisa!), não costumamos trabalhar com ela em assuntos que não sejam muito importantes.

CERNUNNOS: enquanto Arianrhod guarda a Iniciação, Cernunnos é Grande Iniciador! Pouco se sabe sobre o que este deus rege tradicionalmente (entre os neopagãos, claro!), em nosso ofício ele tem um destaque extremo, é um dos deuses que está ao centro, rege coisas muito importantes e sérias que não ouso revelar aqui. Mas é verdade que ele rege também a fertilidade, a atração física/sexo, as florestas e a prosperidade natural.

DÔN: é uma das deusas maternas do nosso ofício, ela é a o espírito da natureza e seus ciclos sazonais, ela manifesta as estações, o crescimento das plantas, e toda vida vegetal e selvagem de modo incorporado, ou seja, é extremamente imanente como se fosse a própria terra e seus fluxos, mas ela não é a terra é si, entenda, ela é o espírito que está nessas coisas e as faz prosperar ou definhar, sua essência perpassa essas fases.

DYLAN: é o guardião do mar e do Reino das Fadas, seu poder está muito mais atrelado as ventanias marítimas e a superfície das águas, rege a boa pesca ou prosperidade para pescadores. Ele que permite a entrada e saída do Caer Siddi, apenas ele.

GWYDION: conhecido como Druida dos Deuses é o guardião de uma das coisas mais importantes do nosso ofício: da Magia. Ele que guarda o conhecimento das formas de magia mais práticas e simples, rege as técnicas e a compreensão dessa arte, por isso rege também a ilusão, a mudança de forma, a poesia e a música (em relações interessantes com o uso da magia).

LLEU: também conhecido como a Águia, está atrelado fortemente a aspectos solares como a Luz (significado do seu nome). Rege batalhas e atos de justiça, é um deus guerreiro e heroico possuidor da Grande Força e superação ou regeneração. A palavra que mais bem define sua essência é resistência!

LLYR: enquanto Dylan é o guardião do mar e do Reino das Fadas, Llyr é o deus do mar, das profundezas, dos mistérios mais obscuros, do silêncio e dos segredos mais bem guardados. Rege a fertilidade, a prosperidade e a natureza dúbia (meio egoica), ou seja, costuma ser bom apenas com quem é bom para ele ou para seus filhos.

MABON: este deus ficou muito famoso através dos escritos de autores neopagãos que costumam colocá-lo como deus da juventude, do amor e das nascentes dos rios em virtude de seus mitos. Mas este deus é muito mais misterioso do que se imagina, sua regência tem forte relação com espíritos dos mortos e espíritos da terra, entre outras coisas mais densas (...).

MODRON: outra deusa materna que, diferente de Dôn, rege aspectos mais humanos referentes a fertilidade feminina (para gerar filhos), o amor e o romance e um novo ciclo referente a esses aspectos: nascimento de uma criança, casamento e família.

RHIANNON: toda tradição tem sua realeza, esta é a nossa, Rhiannon é a nossa deusa-Rainha, isso não a torna mais importante que os outros deuses do ofício, mas destaca sua majestosa regência sobre a alegria, os bons resultados, o trabalho, as mudanças favoráveis, a fertilidade em todos os sentidos e, claro, dos feitiços que favorecem tais coisas. Deusa dos cavalos.

SUCELLUS: deus do início favorável, em seu mito esse poder é retratado pelo seu martelo que o mesmo bate no solo para despertar a primavera, ele desperta e movimenta ou inicia as coisas boas, a prosperidades e os bons fluídos. Contudo, seu martelo também pode ser maléfico aos inimigos, seu nome significa "Atacante" e ele também está relacionado com a guerra e suas batalhas.

TARANIS: famoso deus do trovão e dos relâmpagos também atrelado a guerra como grande mestre das batalhas, mas este deus é muito mais que isso, ele é um dos poucos que nos observa de cima, e não somente a nós, mas ambos os mundos, sua visão é ampla e amplo é o seu saber, há coisas que só ele sabe, há coisas que só ele vê. Por isso ele rege a intuição e a adivinhação também. Seu símbolo é a Roda.

Exite Deus/a Regente?

Sim! Mas claro que é diferente da deusa madrinha do Wicca e do orixá do orí do Candomblé. 13 dos deuses citados a cima regem - cada um - uma das 13 luas do calendário da nossa Tradição, logo, a depender da lua de seu nascimento você é considerado filho/a daquela divindade em virtude de ter nascido sob a regência daquela energia natural que consequentemente influencia na sua personalidade, poder pessoal, elementos de poder e um monte de detalhes bem individuais. Mas isso só pode ser verificado por um magister do nosso Clã, pois carece de um calculo muito bem feito com base em nosso calendário lunar tradicional. Cada divindade está atrelada a animais específicos, planta específica, elementos e manifestações naturais e mágicas específicas, e, consequentemente, regem pessoas específicas. Diferente do Wicca não se trata de um casal divino, apenas uma divindade (feminina ou masculina) rege sua lua de nascimento. Diferente do Candomblé não existe juntó ou ajuntó, como disse, apenas uma divindade rege cada lua. Existe uma segunda divindade que rege o indivíduo na Bruxaria, ela é diferente da divindade regente da lua que rege a personalidade e energia da pessoa independente de ser bruxa ou não, mas a segunda rege a pessoa no ofício e tudo que ela rege tem relação com as potências mágicas e dons do bruxo, mas sobre ela só falarei para integrantes do Clã.

Atenciosamente,
Roberto Trinovantes

sábado, 18 de março de 2017

Lleu Llaw Gyffes

Conhecido na mitologia de Gales como um herói, sua história é encontrada na quarta parte (Mathowy) do Mabinogion (um dos antigos manuscritos literários em prosa da Grã-Bretanha) que relata sua história até a chegada ao trono de Gwynedd. Relacionado a guerra, mas também a magia e isso fica claro na ligação que possui com seu tio Gwydion.

Etimologia

O nome “Lleu” é derivado de “Lugus” (Proto-Céltico) e este, por sua vez, deriva provavelmente do Proto-Indo-Europeu “Leuk” que significa “Luz”. No Proto-Céltico “Lugus” estaria mais atrelado a raiz de Lug-rã que significa Lua. No Welsh (idioma com origem no Céltico Comum) Lugus pode estar atrelado a Lloer do céltico comum Lus-rã que pode significar Amarelo Pálido. Outra hipótese é Leug que do Proto-Indo-Europeu significa “escuridão” ou “Pântano”. Lug do Proto-Celta significa “juramento, garantia e compromisso” em oposição ao Proto-Indo-Europeu Leugh que significa “engano e confissão”. Talvez o nome esteja atrelado ao antigo idioma irlandês Lug (Lince) que provavelmente servia para nomear um animal de olhos brilhantes (o lince é um felino semelhante ao gato e ao tigre). E por fim há uma hipótese relacionado ao termo Lugubris do latim que significa “luto, triste”.

MITOS

Esse deus nasce de maneira muito inusitada e em meio as grandiosas tramas de seu tio (Gwydion), sua mãe (Arianrhod) é sugerida pelo irmão para o teste mágico de virgindade (geralmente era feito antes de casamentos políticos de aliança) e nesse momento ela dá a luz a Dylan que é designado aos mares por Gofannon (irmão de Arianrhod e Gwydion), conta o mito que Arianrhod ficou envergonhada e correu deixando cair entre suas pernas uma coisa pequena que Gwydion guardou em um baú, mais tarde ouviram-se choros de dentro do baú, era um segundo recém nascido: Lleu.

Lleu e sua Mãe: Arianrhod

Anos se passam e Gwydion leva Lleu ao palácio de Arianrhod para que a mãe conheça o filho, furiosa em lembrar da vergonha que passou naquele teste de virgindade ela lançou um encanto na criança determinando que somente ela poderia dar um nome ao menino. Mas, tempos depois, Gwydion e o menino a enganam se disfarçando de sapateiros e a convidando a mostrar-lhes sapatos feitos especialmente para ela, é nesse momento que, apenas ao jogar uma pedra, o menino ataca um carriço estimulando Arianrhod a comentar “é com uma mão habilidosa que o de cabelos loiros a atingiu”, Gwydion revela-se dizendo “Lleu Llaw Gyffes, o de cabelos claros com a mão habilidosa, seu nome agora”. Arianrhod furiosa com mais essa trama lança outro encantamento sobre o rapaz: “Ele nunca receberá armas de ninguém, a não ser que eu as dê”. Gwydion (tempos mais tarde) engana novamente sua irmã fazendo com que ela, sem perceber, presenteasse seu filho com armas, e ela ficou ainda mais irada e dessa vez lançou uma maldição: “Ele nunca terá esposa humana! ”. Math e Gwydion então criaram uma mulher mais bela se utilizando de flores diversas (especialmente de carvalho e pradaria) a nomeando de Blodeuwedd.

Lleu e sua Paixão: Blodeuwedd

Anos se passam e Blodeuwedd se torna namorada de Gronw Pebr, senhor de Penllyn, e os dois combinam um assalto a Lleu, ela o engana para sondá-lo e descobrir como ele pode ser morto, ele inocentemente revela todos os segredos informando que só pode ser morto ao anoitecer, envolto por uma rede, com um dos pés dentro de um caldeirão e o outro em uma cabra, e com uma lança composta durante o ano e durante as horas que todos estão em massa. Ela agradece pela informação e, saindo dali, planeja a morte dele junto com o namorado. Um ano depois Lleu é capturado, enrolado numa rede e colocado para morrer, quando Gronw atira a lança em sua direção Lleu se transforma numa águia e voa para o lugar mais longínquo sendo encontrado apenas por seu tio (Gwydion) todo empoeirado em cima de um carvalho, através de cânticos mágicos ele havia encontrado o carvalho e devolvido a forma humana a seu sobrinho. Gronw e Blodeuwedd haviam tido sucesso em roubar Lleu e estavam de posse das terras do mesmo. Math cuidou da saúde de Lleu com a ajuda de Gwydion para que ele se reempossasse de suas terras. Por fim, chegou o dia do duelo entre Lleu e Gronw, e ele, nada esperto, perguntou a Lleu se poderia pôr uma grandiosa pedra entre a lança de Lleu e ele, Lleu então permitiu, Gronw foi para sua posição de duelo sorrindo e pensando que talvez não fosse derrotado quando a lança de Lleu perfurou e pedra e o perfurou também, Gronw estava morto e Lleu vitorioso.


Escrito e Adaptado por:
Roberto Trinovantes

sexta-feira, 10 de março de 2017

Quem Somos

O Clã Trinovantes foi descoberto em terras brasileiras em 2014, em meio as pesquisas e resgates tradicionalistas do grupo experimental liderado por mim mesmo (Roberto) chamado Ordem Pentacular onde eram praticadas 5 tradições de Magia Clássica: Céltica-Irlandesa, Nórdico-Islandesa, Grega Ateniense, Ianarra Stregoneria Italiana e Heka Idehu do Baixo Egito. A Ordem durou dois anos, seu fim deu-se em 2016. Mas enquanto ela existira foi descoberto o Clã Trinovantes que remonta a ancestralidade céltico-britânica primitiva. Enquanto a Ordem existiu o Clã era o ponto máximo em sua hierarquia e consequentemente a Tradição Irlandesa era o núcleo prático e teórico da Ordem. Como o fim da Ordem o Clã prosseguiu sob minha regência. Só retomei o mesmo em 2017 quando lancei a retificação de membros para novos integrantes, contudo, me aprofundei no resgate sobre o mesmo e obviamente que retirei os elementos da Tradição Irlandesa uma vez que a ancestralidade do Clã pertence a Tradição Britânica Continental, ou seja, da antiga Grã Bretanha e do culto aos deuses Galeses e Gauleses (oriundos do País de Gales). Há inúmeras diferenças entre essas duas tradições!

O Clã Trinovantes foi descoberto e não criado ou composto por ter existido em tempos antigos, sua prática e entendimentos pertencem a Bruxaria Tradicional e por isso trata-se de uma Tradição resgatada ou reconstruída. A Tradição Britânica Continental é diferente da Traditional British Witchcraft de Robert Cochrane, embora existem elementos comuns a ambas uma vez que a primeira é folclórica e resgatada do politeísmo bruxo da Antiguidade britânica e a segunda marcada pelo medievo (Idade Média) e pelo que é chamado de "meso-paganismo" (sincretismos com elementos cristãos e de culturas de outras regiões). No livro "Feitiçaria - A Tradição Renovada" de Doreen Veliente e Evan John Jones nos é apresentada parte da Tradição de Robert e de seu Clã de Tubal Cain, percebem-se inúmeras semelhanças com o Wicca (embora diferenças sejam também colocadas). Para resumir podemos afirmar que a TBC é Bruxaria Tradicional Clássica e a TBW é Bruxaria Tradicional Medieval (embora seus registros estejam entre os séculos XVII, XVIII e XIX). Resumidamente a BT Clássica possui elementos como: politeísmo regional, folclore (lendas e mitos da Era "Pagã"), rituais com pouco cerimonialismo e elementos apenas do politeísmo regional; a BT Medieval possui elementos como: o Diabo, rituais muito cerimoniais, folclore sincretizado e elementos sincretizados.

O Diabo

No meio moderno muito se fala sobre a Igreja ter deturpado a imagem de deuses como o Pan grego e o Cernnunos céltico e os ter relacionado com o Diabo cristão, mas bruxos tradicionais do culto medieval afirmam algo diferente, dizem que realmente houve culto diabólico por parte dos bruxos na Idade Média sim! Antes de qualquer coisa é importante salientar que era um culto totalmente diferente do culto Satânico que nasceu no século XIX, a BT Medieval data da Idade Média e não do século XIX! Enquanto os satanistas acreditam que Satã é melhor que Deus e fazem oposição ao cristianismo, os bruxos medievais acreditam que o Diabo sempre existiu enquanto Deus foi invenção humana em razão do medo humano. São crenças diferentes, não é mesmo?!

Entre os bruxos tradicionais clássicos (que praticam a BT da Antiguidade pré-cristã) as opiniões sobre "o Diabo" se dividem, alguns ignoram, outros afirmam ser mitologia cristã e por isso não existir e alguns acreditam que ele se tornou um Arquétipo. Eu aposto na terceira opinião, pois, diferente do que falam os bruxos modernos sabemos que há muitas semelhanças entre a figura estereotipada do Diabo e dos deuses Cernnunos e Pan, e que os responsáveis por esta associação foram os bruxos medievais. Essa não foi a única associação que os bruxos medievais fizeram, há diversos elementos do folclore e das crenças britânicas e inglesas (berços da BT Medieval) - obviamente célticos - presentes nas tradições medievais. Na tradição de Tubal Cain o Diabo é uma figura primitiva, antiga, exótica, incomum e instintiva, além de ser o Grande Iniciador e Senhor dos Caminhos, atributos muito semelhantes ao do Cernnunos na Tradição Britânica Continental. Os cainitas entendem o Diabo como uma força indômita da natureza, assim como nós bruxos clássicos entendemos nossos Deuses. Como quis dizer Doreen Valiente no livro "Feitiçaria - A Tradição Renovada": "O que nos une é mais forte do que o que nos separa".

A Tradição Britânica Continental

Existem dois tipos de Tradições Britânicas Clássicas: a Continental e a Insula, a primeira pertence a Grã-Bretanha e a segunda às Ilhas Britânicas. Lendas como "A Senhora do Lago", "Teliesin" e "Rei Arthur" pertencem a Tradição Continental, o filme "As Brumas de Avalon" dá uma certa pincelada no que seria essa Tradição (embora a autora dos livros e o diretor do filme tenham se baseado muito no Wicca). Diferente do filme não somente uma Deusa e um Deus são cultuados na nossa Tradição, são 20 Deuses inclusos em nosso ofício: 13 atrelados aos fluxos lunares e 7 atrelados a fluxos primitivos e humanos da terra. Instrumentos como cordas, caldeirões, rodas, agulha, martelo e partes de animais são utilizados (entre outros); O Ogam é utilizado de diversas formas, especialmente para divinações e confecção de talismãs; Trabalhamos com as 13 luas tradicionais para muitas coisas, inclusive para entender qual é o potencial ancestral do bruxo e por quais forças da natureza (deus/a) ele é regido, ou seja, a lua que o mesmo nasceu determina tudo isso, conhecidos hoje como: animal de poder, planta ou árvore de poder, pedra de poder, elemento de poder, cor de poder e número de poder (entre outros). Cremos que tudo que é regido pela lua que o bruxo nasceu fortalece e protege o mesmo, inclusive a divindade que rege aquela lua.

Muito da imagética que se tem hoje sobre bruxas tem origem nas formas britânicas e inglesa de vê-las, por isso alguns aspectos desse imaginário estão presentes nos reais costumes da tradição, tais como: trajar preto! Mas o preto das nossas vestes não tem nenhuma relação com a simbologia neopagã/wiccan de mistério, oculto ou feminino. Não, não! Na verdade a tradição de usar preto tem relações com a cor negra da medeira do carvalho (especialmente quando está seca), o carvalho é uma das 13 árvores que estão atreladas ao ciclo lunar e a magia de uma forma muito intensa, sua fid (singular de Fedha, peça do Ogam) Dear simboliza o druida, sua sabedoria e sua concreta e grandiosa proteção, além do seu grande e enorme poder. Pois é, eis o motivo de trajarmos preto em nossos rituais, feitiços e trabalhos mais comuns. Nos Festivais trajamos outras cores, mas vou preferir deixar essa informação restrita ao Clã.

O Clã Trinovantes Hoje

Hoje o Clã se encontra em retificações periódicas, dando semestral ou anualmente a chance de novos interessados tornarem-se adeptos do mesmo da nossa Tradição. Lembrando que o Clã pratica outras 3 tradições europeias separadamente a modo feiticeiro, são elas: ateniense, ianarra italiana e islandesa. O modo feiticeiro quer dizer que não tem foco devocional de culto e sim apenas o necessário para a realização de feitiços e trabalhos (sem sincretismos ou misturas, cada tradição tem seu momento). O modo devocional e de culto do Clã é unicamente voltado para a Tradição Britânica Continental. Acesse nossa page no Facebook @clatrino e fique por dentro das novidades da nossa próxima recepção de novatos/as.

Atenciosamente,
Roberto Trinovantes