terça-feira, 11 de abril de 2017

Nova Tribo de Dana (História do Clã)

DO WICCA À BRUXARIA TRADICIONAL


Para falar sobre o Clã precisarei falar um pouco sobre mim, pois fui - embora despretensiosamente - o ponto de partida da trajetória. A verdade é que nunca quis liderar, sempre quis ser liderado (hoje não mais), ou então que a liderança fosse só uma fase para um futuro, e harmonioso, coletivismo. Resumindo, nunca quis essa responsabilidade para mim, mas o destino me levou a ela de modo quase obrigatório várias vezes, nunca encontrei em Recife grupos receptivos e/ou que me cativassem com suas propostas de culto e práticas, por isso, me via na escolha singular de buscar uma perspectiva na qual me encaixasse, o que não foi fácil, eu mudei muito, transitei muito até alcançar a linha de chegada e - provavelmente - por isso fui muito mal interpretado pela comunidade neopagã. Eu comecei como wiccano, tinha 13 anos de idade, sozinho iniciei minha busca lendo revistas pouco confiáveis, não demorou muito até começar a fazer contatos pela internet, inicialmente compartilhava meus estudos apenas com uma amiga e com ela começou o que futuramente seria o Coven Nova Tribo de Dana. A ideia do Coven nasceu por volta de 2008, mas foi em 2010 que o considerei fundado com seus devidos integrantes e organização estrutural básica, e, embora estivesse no posto de líder, ainda tinha muito o que aprender, uma das coisas que precisava era saber liderar, mas eu não tinha nem 20 anos de idade, acredito que a imaturidade não ajudou.

Quando decidi extinguir o Coven estava, na verdade, entrando na minha jornada de transições, embora me sentisse completo trabalhando com deuses celtas, quis buscar outros panteões, filosofias e experimentos dentro do próprio Wicca. Como sempre, ansiava por não ser um líder, então nesse período passei por alguns grupos e cogitei entrar em outros que, embora tenham me influenciado, não permaneci e voltei a liderar um grupo wiccano chamado CEW (Círculo Eclético Wiccan). Nos utilizávamos do termo 'eclético' muito mais na perspectiva de mistura de panteões e não na perspectiva histórica do Wicca, novamente amigos me levaram a esta ideia, mas essa mistura toda me fez sentir deslocado e quis me enquadrar em alguma das vertentes do Wicca, sugeri ao grupo o Dianismo de Zsuzana Budapeste, dessa forma o CEW transformou-se em grupo de Wicca Diânico que incluía sete panteões diferentes em seu culto e, conforme nos aprofundávamos na filosofia diânica entendíamos que não precisávamos ser wiccans para tal. Nesse período nos referíamos a nós mesmos como "bruxaria diânica" e foi por conta dessa abordagem que algumas pessoas começaram a questionar ou sugerir que éramos um tipo de "Bruxaria Tradicional", realmente não tinha NADA A VER a "bruxaria diânica" com a Bruxaria Tradicional (não tinha e nunca terá!), mas isso despertou uma curiosidade gigantesca em mim e é graças a esta curiosidade que chegarei - no fim desta história - a minha linha de chegada.

Tal curiosidade me levou - enquanto líder do grupo - a promover estudos intensivos sobre Bruxaria Tradicional entre os integrantes, o objetivo era nos aproximarmos cada vez mais da coerência do que os havia sido sugerido, mas me apaixonei perdidamente pela Bruxaria Tradicional, me senti em casa, acolhido, enraizado... como se tudo estive, agora, encontrando o seu lugar e ficando mais claro, cristalino e - acima de tudo - encaixado. Notei de imediato que a BT era totalmente diferente do dianismo, então sugeri ao grupo uma nova transformação onde deixaríamos de ser neopagãos e passaríamos a ser bruxos tradicionais, mas claro que ainda tínhamos que estudar muito até isso ser real e não poderíamos mais possuir um grupo diânico. Os que estavam me acompanhando nos estudos sobre BT aceitaram tranquilamente, mas os ausentes se revoltaram contra tal modificação e, enquanto nos tornávamos um grupo experimental voltado para a BT chamado "Ordem Tradicionalista de Bruxaria Pentacular - OTBP" os outros abandonavam o grupo e registravam em cartório no título do grupo diânico como posse deles, não vou citar o nome do grupo, mas, se não me engano, até hoje eles têm uma page no Facebook se utilizando do título roubado.

A OTBP ainda possuía muitas referências neopagãs e esotéricas que tinham origem nos grupos que passei (ou observei) e nas fontes de conhecimento facilmente disponíveis, inclusive havia sido acusado de plágio por pessoas da comunidade neopagã por conta de tais referências (que eu julgava universal e não singulares ou originais de cada grupo). Uma das referências mais estranhas da Ordem era possuir culto em cinco panteões distintos que mais tarde - com a avanço dos estudos - tornaram-se Tradições (céltico-irlandesa, nórdico-islandesa, egípcia, ateniense e italiana), mas, infelizmente, a Ordem se tornou uma espécie de "grupo mediúnico" onde manifestar dons e incorporar espíritos era o foco de muitos (alguns fingindo, claro!) e isso se tornava a atração principal dos encontros tirando totalmente o foco dos estudos (que eram extremamente necessários para um grupo ainda cheio de coisas a modificar para se aproximar da BT). Logo a Ordem também foi extinta, estava em total desordem e cheia de brigas egocêntricas por poder e liderança, isso em razão de (eu) ter desejado dividir a liderança e tornar o grupo mais coletivista e/ou democrático, quando a bagunça se instaurou me vi obrigado a voltar a ser o único líder, mas não deu certo, fui acusado de ter "ambição de poder". Com o fim da Ordem aprendi que não posso fugir da liderança, creio que o destino estava tentando me ensinar isso com todos esses eventos. Mas não foi dessa vez que tornei a liderança uma "missão de vida".

Enquanto estive na Ordem fui aquele que resgatava as tradições por meio de pesquisas e mais pesquisas, noites a fio em claro, prazos estabelecidos, pressa e muita gente se chateando com as mudanças constantes. Me sentia muito sobrecarregado e solicitei ajuda muitas vezes, mas as pessoas sempre fraquejavam nesse aspecto, houveram apenas duas tradições que não ficaram completamente sobre minha responsabilidade: a do Baixo Egito e a Italiana (mais tarde tive que tomar posse da segunda por algumas razões) que foram inicialmente resgatas por outra pessoa (a do Baixo Egito totalmente). Com o fim da Ordem desejei me dedicar apenas a uma tradição, as pessoas que ficaram do meu lado estavam esperando um posicionamento de líder referente ao que seríamos agora, então optei por formarmos um grupo de estudos sobre a Tradição Nórdico-Islandesa em razão de ter sido uma das tradições que mais me dediquei enquanto estive na Ordem, minha paixão pela cultura celta persistia, mas me sentia afastado dela por algum motivo.

O grupo voltado para a Tradição Islandesa durou apenas meses, nesse período promovi um curso de runas, rituais e festivais reservados e, consequentemente, um estudo mais prático sobre os aspectos desse caminho. Mas 2016 foi um ano muito turbulento para mim nas questões pessoais, tinham decisões a tomar e coisas a organizar, e esta é justamente a palavra, organização foi o que faltou nos estudos e abordagens do grupo, fiquei tão saturado com a turbulência que se instaurou também dentro do grupo (além da bagunça que estava a minha vida) que joguei tudo pro alto, desisti dos aprendizes (alguns estavam muito revoltados, inclusive) e extingui o grupo. Era realmente o que precisava naquele momento no qual um namoro de 3 anos chegava ao fim, perdera amigos que faziam parte daquele relacionamento, desistia do curso que estava me graduando na universidade, entre outras coisas... Mas meus ex aprendizes não entenderam essas atitudes impulsivas e conspiraram para criar um novo grupo na mesma perspectiva e com os mesmos aspectos, embora só tenha durado meses (o grupo no qual eu os liderava), ou seja, eles sabiam de pouquíssimas coisas (principalmente no que se refere ao que é BT). Claro que nada justifica certas atitudes impulsivas, mas, comicamente, isso me trouxe coisas muito boas.

Voltando um pouco na história... a OTBP se organizava como um tipo de pirâmide onde o topo era a Tradição Céltico-Irlandesa (que foi a primeira a ser resgatada e estudada) e, por isso, desvendou-se o Clã Trinovantes que foi descoberto enquanto origem ancestral da maioria dos integrantes da Ordem (isso tem relação com a árvore genealógica e a migração dos celtas para Portugal e, posteriormente, de muitos portugueses para o Brasil Colônia - Nordeste muito bem incluso), por isso, o Clã era um núcleo de elite dentro da Ordem onde só os merecedores eram inclusos. Com o fim da Ordem o Clã ficou esquecido até o fim de 2016 quando tive um contato avassalador com uma deusa celta que marcou minha vida por muitos anos (Brigit), estava ainda tentado me reencontrar em meio as turbulências quando ela veio a mim e apontou o caminho, me orientou e falou sobre o Clã e sua importância, além, é claro, de esclarecer diversas coisas sobre ser líder e tudo o que passei. Então retomei o Clã em 2017 divulgando integrações periódicas e me aprofundando nas verdadeiras raízes tradicionais do mesmo, ou seja, a Tradição Britânica Continental.

Hoje tenho a liderança como uma missão de vida e tenho certeza que os deuses e o destino querem isso de mim, antes via como um fardo, hoje vejo como uma razão para prosseguir no politeísmo e na Bruxaria Tradicional (um isentivo a mais). A energia da Tradição Britânica me trouxe uma paz que nunca tive, uma tranquilidade interior que me permite observar tudo com mais calma e ponderação, acho que talvez esteja mais próximo da maturidade de um verdadeiro Magister (cargo de liderança na BT), acredito que a idade também ajudou, pois diversas outras escolhas pessoais também foram feitas com a mesma tranquilidade e observação. Tudo fez sentido quando fiz os cálculos tradicionais e descobri que, na Tradição Britânica, a deusa Brigit me rege na prática mágica, isso realmente explica como tudo começou no Wicca com a existência do Coven Nova Tribo de Dana e como tudo se encaixa agora na Bruxaria Tradicional com o Clã Trinovantes. Sinto que voltei ao meu lugar, às minhas raízes, ao meu lar, sei que precisei sair dele e aprender com toda essa jornada cheia de transições, mudanças e turbulências, creio que é isso que explica essa paz interna que sinto: estar em casa, pois o lar é sempre um lugar onde estamos acolhidos e protegidos. Obviamente não é mais um "lar" wiccano, o que faz me sentir em uma outra "casa", maior, mais organizada, com outros móveis, pintura, portas e cômodos, mas com algumas semelhanças, embora distantes, mas muito importantes. A essência do que era buscado no NTD é finalmente palpável no Clã Trinovantes.


Atenciosamente,
- Roberto Trinovantes

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