sexta-feira, 24 de março de 2017

Nossos Deuses

ARTIS DEOS


Como Vemos os Deuses

A forma como vemos nossos deuses é peculiar e diferente do entendimento da bruxaria moderna e do neopaganismo, porém comum nas tradições de Bruxaria Tradicional mais animistas. Cremos que a essência real dos deuses está muito mais em suas manifestações animistas, ou seja, zoomórficas, e é através dessas manifestações que os mesmos trabalham conosco em nossos rituais, festivais e ritos diários. Não cremos que hajam arquétipos, ou seja, que um deus do mar britânico é correspondente ao deus do mar grego, isso é neossincretismo e não tem espaço para isso na Bruxaria Tradicional, cremos na singularidade de cada divindade e na pluralidade de divindades e panteões, afinal, se somos vários porque os deuses haveriam de serem somente dois ou - pior - somente um?! Cremos que a própria diversidade das existências, espécies, cores, raças, culturas e credos (...) são materializações dos nossos criadores e por esse motivos existem tantas diferenças naturais entre nós. Esse é o verdadeiro pensamento POLITEÍSTA tradicional. A crença new age de que deuses são arquétipos se enquadra em algo mais esotérico e não politeísta de fato.

Os deuses do nosso ofício e tradição (me refiro ao Clã Trinovantes e a Tradição Britânica Continental) possuem manifestações pouco humanas e eles - por diversos motivos - as preferem. Geralmente estão incorporados a animais, manifestações literais da natureza e/ou aspectos mágico-espirituais misteriosos. A humanização dos deuses veio com o impulso a civilidade e a influência de culturas romanas e gregas (onde os deuses são extremamente humanos nas religiões sociais), tradicionalmente os deuses são muito mais primitivos, selvagens e etéreos do que imaginam ou cogitam os inúmeros autores de livros modernos sobre mitologia e neopaganismo.

É comum perdermos as contas de quantos deuses são/eram cultuados nas religiões sociais politeístas da Antiguidade, dizem que há deuses que regem coisas fúteis como a maçaneta de uma porta ou a fechadura da mesma. Quando antropólogos afirmam que deuses são criações humanas eu refuto dizendo que, realmente, não são todos, mas muitos deuses foram criações humanas com toda certeza e um bom exemplo disso é a religião social romana, eu não teria paciência para cultuar aqueles deuses todos! Em nosso ofício e tradição existem apenas 20 deuses, isso não quer dizer que todos os deuses que não estão entre os 20 inexistem, isso quer dizer que apenas esses 20 fazem parte do nosso culto e da nossa devoção bruxa.

Os 20 Deuses

ARAWN: é o guardião e governante do Outro Mundo (onde existem pelo menos 4 reinos distintos paralelos ao nosso) e do Reino das Fadas (Caer Siddi).

ARIANRHOD: é a senhora das mudanças, regente da magia e seus mistérios, é uma das guardiãs da Iniciação e das passagens.

ARDDHU: guardião dos mistérios obscuros da natureza e dos encontros da mesma com o Outro Mundo, atrelado a morte e a guerra é o Grande Corvo, conhecido como "Green Man" (o Homem Verde) é retratado como um homem com a face coberta de folhas verdes.

BRIGIT: guardiã das batalhas na Tradição Britânica Continental é cultuada como a deusa guerreira e curandeira, a luminosa e poderosa que junto ao Grande Corvo entra e sai dos campos de batalha favorecendo vitória aos guerreiros. Inspiradora dos Bardos (poetas) e guardiã do fogo da coragem, bravura e renovação.

BLODEUWEDD: deusa da paixão e dos sentimentos perigosos, misteriosa e ardilosa, rege estratégias e a sabedoria dos segredos, conhecida também como a Coruja.

BRAN: guardião da guerra como um todo, porta o Caldeirão do Renascimento (e isso está relacionado com a morte em batalha, nada mirabolante), concede proteção aos guerreiros, rege os corvos, em tempos de guerra canções o louvavam como o Gigante.

BRANWEN: uma das deusas mais importantes para os bruxos da nossa Tradição, ela rege a grande "sabedoria do carvalho", principalmente em assuntos relacionados a justiça, a magia, a perseverança, a liderança, a força de vontade e também ao amor.

BELI:  é um dos poucos deuses pan-célticos (que possui correspondente em outras tradições célticas) cujos correspondentes são Belenos e Bilé. Na nossa Tradição é cultuado como o maior e mais antigo ancestral, rege a adivinhação e a profecia.

CERRIDWEN: em nossa Tradição a regente dos Bardos é Cerridwen e não Brigit que apenas os inspira, os Bardos do País de Gales e da Grã Bretanha refiram a si mesmos como "Cerddorion" (filhos de Cerridwen). Para nós ela é uma das divindades mais densas do nosso ofício, ela porta o Caldeirão do Ofício (e isso quer dizer muita coisa!), não costumamos trabalhar com ela em assuntos que não sejam muito importantes.

CERNUNNOS: enquanto Arianrhod guarda a Iniciação, Cernunnos é Grande Iniciador! Pouco se sabe sobre o que este deus rege tradicionalmente (entre os neopagãos, claro!), em nosso ofício ele tem um destaque extremo, é um dos deuses que está ao centro, rege coisas muito importantes e sérias que não ouso revelar aqui. Mas é verdade que ele rege também a fertilidade, a atração física/sexo, as florestas e a prosperidade natural.

DÔN: é uma das deusas maternas do nosso ofício, ela é a o espírito da natureza e seus ciclos sazonais, ela manifesta as estações, o crescimento das plantas, e toda vida vegetal e selvagem de modo incorporado, ou seja, é extremamente imanente como se fosse a própria terra e seus fluxos, mas ela não é a terra é si, entenda, ela é o espírito que está nessas coisas e as faz prosperar ou definhar, sua essência perpassa essas fases.

DYLAN: é o guardião do mar e do Reino das Fadas, seu poder está muito mais atrelado as ventanias marítimas e a superfície das águas, rege a boa pesca ou prosperidade para pescadores. Ele que permite a entrada e saída do Caer Siddi, apenas ele.

GWYDION: conhecido como Druida dos Deuses é o guardião de uma das coisas mais importantes do nosso ofício: da Magia. Ele que guarda o conhecimento das formas de magia mais práticas e simples, rege as técnicas e a compreensão dessa arte, por isso rege também a ilusão, a mudança de forma, a poesia e a música (em relações interessantes com o uso da magia).

LLEU: também conhecido como a Águia, está atrelado fortemente a aspectos solares como a Luz (significado do seu nome). Rege batalhas e atos de justiça, é um deus guerreiro e heroico possuidor da Grande Força e superação ou regeneração. A palavra que mais bem define sua essência é resistência!

LLYR: enquanto Dylan é o guardião do mar e do Reino das Fadas, Llyr é o deus do mar, das profundezas, dos mistérios mais obscuros, do silêncio e dos segredos mais bem guardados. Rege a fertilidade, a prosperidade e a natureza dúbia (meio egoica), ou seja, costuma ser bom apenas com quem é bom para ele ou para seus filhos.

MABON: este deus ficou muito famoso através dos escritos de autores neopagãos que costumam colocá-lo como deus da juventude, do amor e das nascentes dos rios em virtude de seus mitos. Mas este deus é muito mais misterioso do que se imagina, sua regência tem forte relação com espíritos dos mortos e espíritos da terra, entre outras coisas mais densas (...).

MODRON: outra deusa materna que, diferente de Dôn, rege aspectos mais humanos referentes a fertilidade feminina (para gerar filhos), o amor e o romance e um novo ciclo referente a esses aspectos: nascimento de uma criança, casamento e família.

RHIANNON: toda tradição tem sua realeza, esta é a nossa, Rhiannon é a nossa deusa-Rainha, isso não a torna mais importante que os outros deuses do ofício, mas destaca sua majestosa regência sobre a alegria, os bons resultados, o trabalho, as mudanças favoráveis, a fertilidade em todos os sentidos e, claro, dos feitiços que favorecem tais coisas. Deusa dos cavalos.

SUCELLUS: deus do início favorável, em seu mito esse poder é retratado pelo seu martelo que o mesmo bate no solo para despertar a primavera, ele desperta e movimenta ou inicia as coisas boas, a prosperidades e os bons fluídos. Contudo, seu martelo também pode ser maléfico aos inimigos, seu nome significa "Atacante" e ele também está relacionado com a guerra e suas batalhas.

TARANIS: famoso deus do trovão e dos relâmpagos também atrelado a guerra como grande mestre das batalhas, mas este deus é muito mais que isso, ele é um dos poucos que nos observa de cima, e não somente a nós, mas ambos os mundos, sua visão é ampla e amplo é o seu saber, há coisas que só ele sabe, há coisas que só ele vê. Por isso ele rege a intuição e a adivinhação também. Seu símbolo é a Roda.

Exite Deus/a Regente?

Sim! Mas claro que é diferente da deusa madrinha do Wicca e do orixá do orí do Candomblé. 13 dos deuses citados a cima regem - cada um - uma das 13 luas do calendário da nossa Tradição, logo, a depender da lua de seu nascimento você é considerado filho/a daquela divindade em virtude de ter nascido sob a regência daquela energia natural que consequentemente influencia na sua personalidade, poder pessoal, elementos de poder e um monte de detalhes bem individuais. Mas isso só pode ser verificado por um magister do nosso Clã, pois carece de um calculo muito bem feito com base em nosso calendário lunar tradicional. Cada divindade está atrelada a animais específicos, planta específica, elementos e manifestações naturais e mágicas específicas, e, consequentemente, regem pessoas específicas. Diferente do Wicca não se trata de um casal divino, apenas uma divindade (feminina ou masculina) rege sua lua de nascimento. Diferente do Candomblé não existe juntó ou ajuntó, como disse, apenas uma divindade rege cada lua. Existe uma segunda divindade que rege o indivíduo na Bruxaria, ela é diferente da divindade regente da lua que rege a personalidade e energia da pessoa independente de ser bruxa ou não, mas a segunda rege a pessoa no ofício e tudo que ela rege tem relação com as potências mágicas e dons do bruxo, mas sobre ela só falarei para integrantes do Clã.

Atenciosamente,
Roberto Trinovantes

sábado, 18 de março de 2017

Lleu Llaw Gyffes

Conhecido na mitologia de Gales como um herói, sua história é encontrada na quarta parte (Mathowy) do Mabinogion (um dos antigos manuscritos literários em prosa da Grã-Bretanha) que relata sua história até a chegada ao trono de Gwynedd. Relacionado a guerra, mas também a magia e isso fica claro na ligação que possui com seu tio Gwydion.

Etimologia

O nome “Lleu” é derivado de “Lugus” (Proto-Céltico) e este, por sua vez, deriva provavelmente do Proto-Indo-Europeu “Leuk” que significa “Luz”. No Proto-Céltico “Lugus” estaria mais atrelado a raiz de Lug-rã que significa Lua. No Welsh (idioma com origem no Céltico Comum) Lugus pode estar atrelado a Lloer do céltico comum Lus-rã que pode significar Amarelo Pálido. Outra hipótese é Leug que do Proto-Indo-Europeu significa “escuridão” ou “Pântano”. Lug do Proto-Celta significa “juramento, garantia e compromisso” em oposição ao Proto-Indo-Europeu Leugh que significa “engano e confissão”. Talvez o nome esteja atrelado ao antigo idioma irlandês Lug (Lince) que provavelmente servia para nomear um animal de olhos brilhantes (o lince é um felino semelhante ao gato e ao tigre). E por fim há uma hipótese relacionado ao termo Lugubris do latim que significa “luto, triste”.

MITOS

Esse deus nasce de maneira muito inusitada e em meio as grandiosas tramas de seu tio (Gwydion), sua mãe (Arianrhod) é sugerida pelo irmão para o teste mágico de virgindade (geralmente era feito antes de casamentos políticos de aliança) e nesse momento ela dá a luz a Dylan que é designado aos mares por Gofannon (irmão de Arianrhod e Gwydion), conta o mito que Arianrhod ficou envergonhada e correu deixando cair entre suas pernas uma coisa pequena que Gwydion guardou em um baú, mais tarde ouviram-se choros de dentro do baú, era um segundo recém nascido: Lleu.

Lleu e sua Mãe: Arianrhod

Anos se passam e Gwydion leva Lleu ao palácio de Arianrhod para que a mãe conheça o filho, furiosa em lembrar da vergonha que passou naquele teste de virgindade ela lançou um encanto na criança determinando que somente ela poderia dar um nome ao menino. Mas, tempos depois, Gwydion e o menino a enganam se disfarçando de sapateiros e a convidando a mostrar-lhes sapatos feitos especialmente para ela, é nesse momento que, apenas ao jogar uma pedra, o menino ataca um carriço estimulando Arianrhod a comentar “é com uma mão habilidosa que o de cabelos loiros a atingiu”, Gwydion revela-se dizendo “Lleu Llaw Gyffes, o de cabelos claros com a mão habilidosa, seu nome agora”. Arianrhod furiosa com mais essa trama lança outro encantamento sobre o rapaz: “Ele nunca receberá armas de ninguém, a não ser que eu as dê”. Gwydion (tempos mais tarde) engana novamente sua irmã fazendo com que ela, sem perceber, presenteasse seu filho com armas, e ela ficou ainda mais irada e dessa vez lançou uma maldição: “Ele nunca terá esposa humana! ”. Math e Gwydion então criaram uma mulher mais bela se utilizando de flores diversas (especialmente de carvalho e pradaria) a nomeando de Blodeuwedd.

Lleu e sua Paixão: Blodeuwedd

Anos se passam e Blodeuwedd se torna namorada de Gronw Pebr, senhor de Penllyn, e os dois combinam um assalto a Lleu, ela o engana para sondá-lo e descobrir como ele pode ser morto, ele inocentemente revela todos os segredos informando que só pode ser morto ao anoitecer, envolto por uma rede, com um dos pés dentro de um caldeirão e o outro em uma cabra, e com uma lança composta durante o ano e durante as horas que todos estão em massa. Ela agradece pela informação e, saindo dali, planeja a morte dele junto com o namorado. Um ano depois Lleu é capturado, enrolado numa rede e colocado para morrer, quando Gronw atira a lança em sua direção Lleu se transforma numa águia e voa para o lugar mais longínquo sendo encontrado apenas por seu tio (Gwydion) todo empoeirado em cima de um carvalho, através de cânticos mágicos ele havia encontrado o carvalho e devolvido a forma humana a seu sobrinho. Gronw e Blodeuwedd haviam tido sucesso em roubar Lleu e estavam de posse das terras do mesmo. Math cuidou da saúde de Lleu com a ajuda de Gwydion para que ele se reempossasse de suas terras. Por fim, chegou o dia do duelo entre Lleu e Gronw, e ele, nada esperto, perguntou a Lleu se poderia pôr uma grandiosa pedra entre a lança de Lleu e ele, Lleu então permitiu, Gronw foi para sua posição de duelo sorrindo e pensando que talvez não fosse derrotado quando a lança de Lleu perfurou e pedra e o perfurou também, Gronw estava morto e Lleu vitorioso.


Escrito e Adaptado por:
Roberto Trinovantes

sexta-feira, 10 de março de 2017

Quem Somos

O Clã Trinovantes foi descoberto em terras brasileiras em 2014, em meio as pesquisas e resgates tradicionalistas do grupo experimental liderado por mim mesmo (Roberto) chamado Ordem Pentacular onde eram praticadas 5 tradições de Magia Clássica: Céltica-Irlandesa, Nórdico-Islandesa, Grega Ateniense, Ianarra Stregoneria Italiana e Heka Idehu do Baixo Egito. A Ordem durou dois anos, seu fim deu-se em 2016. Mas enquanto ela existira foi descoberto o Clã Trinovantes que remonta a ancestralidade céltico-britânica primitiva. Enquanto a Ordem existiu o Clã era o ponto máximo em sua hierarquia e consequentemente a Tradição Irlandesa era o núcleo prático e teórico da Ordem. Como o fim da Ordem o Clã prosseguiu sob minha regência. Só retomei o mesmo em 2017 quando lancei a retificação de membros para novos integrantes, contudo, me aprofundei no resgate sobre o mesmo e obviamente que retirei os elementos da Tradição Irlandesa uma vez que a ancestralidade do Clã pertence a Tradição Britânica Continental, ou seja, da antiga Grã Bretanha e do culto aos deuses Galeses e Gauleses (oriundos do País de Gales). Há inúmeras diferenças entre essas duas tradições!

O Clã Trinovantes foi descoberto e não criado ou composto por ter existido em tempos antigos, sua prática e entendimentos pertencem a Bruxaria Tradicional e por isso trata-se de uma Tradição resgatada ou reconstruída. A Tradição Britânica Continental é diferente da Traditional British Witchcraft de Robert Cochrane, embora existem elementos comuns a ambas uma vez que a primeira é folclórica e resgatada do politeísmo bruxo da Antiguidade britânica e a segunda marcada pelo medievo (Idade Média) e pelo que é chamado de "meso-paganismo" (sincretismos com elementos cristãos e de culturas de outras regiões). No livro "Feitiçaria - A Tradição Renovada" de Doreen Veliente e Evan John Jones nos é apresentada parte da Tradição de Robert e de seu Clã de Tubal Cain, percebem-se inúmeras semelhanças com o Wicca (embora diferenças sejam também colocadas). Para resumir podemos afirmar que a TBC é Bruxaria Tradicional Clássica e a TBW é Bruxaria Tradicional Medieval (embora seus registros estejam entre os séculos XVII, XVIII e XIX). Resumidamente a BT Clássica possui elementos como: politeísmo regional, folclore (lendas e mitos da Era "Pagã"), rituais com pouco cerimonialismo e elementos apenas do politeísmo regional; a BT Medieval possui elementos como: o Diabo, rituais muito cerimoniais, folclore sincretizado e elementos sincretizados.

O Diabo

No meio moderno muito se fala sobre a Igreja ter deturpado a imagem de deuses como o Pan grego e o Cernnunos céltico e os ter relacionado com o Diabo cristão, mas bruxos tradicionais do culto medieval afirmam algo diferente, dizem que realmente houve culto diabólico por parte dos bruxos na Idade Média sim! Antes de qualquer coisa é importante salientar que era um culto totalmente diferente do culto Satânico que nasceu no século XIX, a BT Medieval data da Idade Média e não do século XIX! Enquanto os satanistas acreditam que Satã é melhor que Deus e fazem oposição ao cristianismo, os bruxos medievais acreditam que o Diabo sempre existiu enquanto Deus foi invenção humana em razão do medo humano. São crenças diferentes, não é mesmo?!

Entre os bruxos tradicionais clássicos (que praticam a BT da Antiguidade pré-cristã) as opiniões sobre "o Diabo" se dividem, alguns ignoram, outros afirmam ser mitologia cristã e por isso não existir e alguns acreditam que ele se tornou um Arquétipo. Eu aposto na terceira opinião, pois, diferente do que falam os bruxos modernos sabemos que há muitas semelhanças entre a figura estereotipada do Diabo e dos deuses Cernnunos e Pan, e que os responsáveis por esta associação foram os bruxos medievais. Essa não foi a única associação que os bruxos medievais fizeram, há diversos elementos do folclore e das crenças britânicas e inglesas (berços da BT Medieval) - obviamente célticos - presentes nas tradições medievais. Na tradição de Tubal Cain o Diabo é uma figura primitiva, antiga, exótica, incomum e instintiva, além de ser o Grande Iniciador e Senhor dos Caminhos, atributos muito semelhantes ao do Cernnunos na Tradição Britânica Continental. Os cainitas entendem o Diabo como uma força indômita da natureza, assim como nós bruxos clássicos entendemos nossos Deuses. Como quis dizer Doreen Valiente no livro "Feitiçaria - A Tradição Renovada": "O que nos une é mais forte do que o que nos separa".

A Tradição Britânica Continental

Existem dois tipos de Tradições Britânicas Clássicas: a Continental e a Insula, a primeira pertence a Grã-Bretanha e a segunda às Ilhas Britânicas. Lendas como "A Senhora do Lago", "Teliesin" e "Rei Arthur" pertencem a Tradição Continental, o filme "As Brumas de Avalon" dá uma certa pincelada no que seria essa Tradição (embora a autora dos livros e o diretor do filme tenham se baseado muito no Wicca). Diferente do filme não somente uma Deusa e um Deus são cultuados na nossa Tradição, são 20 Deuses inclusos em nosso ofício: 13 atrelados aos fluxos lunares e 7 atrelados a fluxos primitivos e humanos da terra. Instrumentos como cordas, caldeirões, rodas, agulha, martelo e partes de animais são utilizados (entre outros); O Ogam é utilizado de diversas formas, especialmente para divinações e confecção de talismãs; Trabalhamos com as 13 luas tradicionais para muitas coisas, inclusive para entender qual é o potencial ancestral do bruxo e por quais forças da natureza (deus/a) ele é regido, ou seja, a lua que o mesmo nasceu determina tudo isso, conhecidos hoje como: animal de poder, planta ou árvore de poder, pedra de poder, elemento de poder, cor de poder e número de poder (entre outros). Cremos que tudo que é regido pela lua que o bruxo nasceu fortalece e protege o mesmo, inclusive a divindade que rege aquela lua.

Muito da imagética que se tem hoje sobre bruxas tem origem nas formas britânicas e inglesa de vê-las, por isso alguns aspectos desse imaginário estão presentes nos reais costumes da tradição, tais como: trajar preto! Mas o preto das nossas vestes não tem nenhuma relação com a simbologia neopagã/wiccan de mistério, oculto ou feminino. Não, não! Na verdade a tradição de usar preto tem relações com a cor negra da medeira do carvalho (especialmente quando está seca), o carvalho é uma das 13 árvores que estão atreladas ao ciclo lunar e a magia de uma forma muito intensa, sua fid (singular de Fedha, peça do Ogam) Dear simboliza o druida, sua sabedoria e sua concreta e grandiosa proteção, além do seu grande e enorme poder. Pois é, eis o motivo de trajarmos preto em nossos rituais, feitiços e trabalhos mais comuns. Nos Festivais trajamos outras cores, mas vou preferir deixar essa informação restrita ao Clã.

O Clã Trinovantes Hoje

Hoje o Clã se encontra em retificações periódicas, dando semestral ou anualmente a chance de novos interessados tornarem-se adeptos do mesmo da nossa Tradição. Lembrando que o Clã pratica outras 3 tradições europeias separadamente a modo feiticeiro, são elas: ateniense, ianarra italiana e islandesa. O modo feiticeiro quer dizer que não tem foco devocional de culto e sim apenas o necessário para a realização de feitiços e trabalhos (sem sincretismos ou misturas, cada tradição tem seu momento). O modo devocional e de culto do Clã é unicamente voltado para a Tradição Britânica Continental. Acesse nossa page no Facebook @clatrino e fique por dentro das novidades da nossa próxima recepção de novatos/as.

Atenciosamente,
Roberto Trinovantes