ARTIS DEOS
Como Vemos os Deuses
A forma como vemos nossos deuses é peculiar e diferente do entendimento da bruxaria moderna e do neopaganismo, porém comum nas tradições de Bruxaria Tradicional mais animistas. Cremos que a essência real dos deuses está muito mais em suas manifestações animistas, ou seja, zoomórficas, e é através dessas manifestações que os mesmos trabalham conosco em nossos rituais, festivais e ritos diários. Não cremos que hajam arquétipos, ou seja, que um deus do mar britânico é correspondente ao deus do mar grego, isso é neossincretismo e não tem espaço para isso na Bruxaria Tradicional, cremos na singularidade de cada divindade e na pluralidade de divindades e panteões, afinal, se somos vários porque os deuses haveriam de serem somente dois ou - pior - somente um?! Cremos que a própria diversidade das existências, espécies, cores, raças, culturas e credos (...) são materializações dos nossos criadores e por esse motivos existem tantas diferenças naturais entre nós. Esse é o verdadeiro pensamento POLITEÍSTA tradicional. A crença new age de que deuses são arquétipos se enquadra em algo mais esotérico e não politeísta de fato.
Os deuses do nosso ofício e tradição (me refiro ao Clã Trinovantes e a Tradição Britânica Continental) possuem manifestações pouco humanas e eles - por diversos motivos - as preferem. Geralmente estão incorporados a animais, manifestações literais da natureza e/ou aspectos mágico-espirituais misteriosos. A humanização dos deuses veio com o impulso a civilidade e a influência de culturas romanas e gregas (onde os deuses são extremamente humanos nas religiões sociais), tradicionalmente os deuses são muito mais primitivos, selvagens e etéreos do que imaginam ou cogitam os inúmeros autores de livros modernos sobre mitologia e neopaganismo.
É comum perdermos as contas de quantos deuses são/eram cultuados nas religiões sociais politeístas da Antiguidade, dizem que há deuses que regem coisas fúteis como a maçaneta de uma porta ou a fechadura da mesma. Quando antropólogos afirmam que deuses são criações humanas eu refuto dizendo que, realmente, não são todos, mas muitos deuses foram criações humanas com toda certeza e um bom exemplo disso é a religião social romana, eu não teria paciência para cultuar aqueles deuses todos! Em nosso ofício e tradição existem apenas 20 deuses, isso não quer dizer que todos os deuses que não estão entre os 20 inexistem, isso quer dizer que apenas esses 20 fazem parte do nosso culto e da nossa devoção bruxa.
Os 20 Deuses
ARAWN: é o guardião e governante do Outro Mundo (onde existem pelo menos 4 reinos distintos paralelos ao nosso) e do Reino das Fadas (Caer Siddi).
ARIANRHOD: é a senhora das mudanças, regente da magia e seus mistérios, é uma das guardiãs da Iniciação e das passagens.
ARDDHU: guardião dos mistérios obscuros da natureza e dos encontros da mesma com o Outro Mundo, atrelado a morte e a guerra é o Grande Corvo, conhecido como "Green Man" (o Homem Verde) é retratado como um homem com a face coberta de folhas verdes.
BRIGIT: guardiã das batalhas na Tradição Britânica Continental é cultuada como a deusa guerreira e curandeira, a luminosa e poderosa que junto ao Grande Corvo entra e sai dos campos de batalha favorecendo vitória aos guerreiros. Inspiradora dos Bardos (poetas) e guardiã do fogo da coragem, bravura e renovação.
BLODEUWEDD: deusa da paixão e dos sentimentos perigosos, misteriosa e ardilosa, rege estratégias e a sabedoria dos segredos, conhecida também como a Coruja.
BRAN: guardião da guerra como um todo, porta o Caldeirão do Renascimento (e isso está relacionado com a morte em batalha, nada mirabolante), concede proteção aos guerreiros, rege os corvos, em tempos de guerra canções o louvavam como o Gigante.
BRANWEN: uma das deusas mais importantes para os bruxos da nossa Tradição, ela rege a grande "sabedoria do carvalho", principalmente em assuntos relacionados a justiça, a magia, a perseverança, a liderança, a força de vontade e também ao amor.
BELI: é um dos poucos deuses pan-célticos (que possui correspondente em outras tradições célticas) cujos correspondentes são Belenos e Bilé. Na nossa Tradição é cultuado como o maior e mais antigo ancestral, rege a adivinhação e a profecia.
CERRIDWEN: em nossa Tradição a regente dos Bardos é Cerridwen e não Brigit que apenas os inspira, os Bardos do País de Gales e da Grã Bretanha refiram a si mesmos como "Cerddorion" (filhos de Cerridwen). Para nós ela é uma das divindades mais densas do nosso ofício, ela porta o Caldeirão do Ofício (e isso quer dizer muita coisa!), não costumamos trabalhar com ela em assuntos que não sejam muito importantes.
CERNUNNOS: enquanto Arianrhod guarda a Iniciação, Cernunnos é Grande Iniciador! Pouco se sabe sobre o que este deus rege tradicionalmente (entre os neopagãos, claro!), em nosso ofício ele tem um destaque extremo, é um dos deuses que está ao centro, rege coisas muito importantes e sérias que não ouso revelar aqui. Mas é verdade que ele rege também a fertilidade, a atração física/sexo, as florestas e a prosperidade natural.
DÔN: é uma das deusas maternas do nosso ofício, ela é a o espírito da natureza e seus ciclos sazonais, ela manifesta as estações, o crescimento das plantas, e toda vida vegetal e selvagem de modo incorporado, ou seja, é extremamente imanente como se fosse a própria terra e seus fluxos, mas ela não é a terra é si, entenda, ela é o espírito que está nessas coisas e as faz prosperar ou definhar, sua essência perpassa essas fases.
DYLAN: é o guardião do mar e do Reino das Fadas, seu poder está muito mais atrelado as ventanias marítimas e a superfície das águas, rege a boa pesca ou prosperidade para pescadores. Ele que permite a entrada e saída do Caer Siddi, apenas ele.
GWYDION: conhecido como Druida dos Deuses é o guardião de uma das coisas mais importantes do nosso ofício: da Magia. Ele que guarda o conhecimento das formas de magia mais práticas e simples, rege as técnicas e a compreensão dessa arte, por isso rege também a ilusão, a mudança de forma, a poesia e a música (em relações interessantes com o uso da magia).
LLEU: também conhecido como a Águia, está atrelado fortemente a aspectos solares como a Luz (significado do seu nome). Rege batalhas e atos de justiça, é um deus guerreiro e heroico possuidor da Grande Força e superação ou regeneração. A palavra que mais bem define sua essência é resistência!
LLYR: enquanto Dylan é o guardião do mar e do Reino das Fadas, Llyr é o deus do mar, das profundezas, dos mistérios mais obscuros, do silêncio e dos segredos mais bem guardados. Rege a fertilidade, a prosperidade e a natureza dúbia (meio egoica), ou seja, costuma ser bom apenas com quem é bom para ele ou para seus filhos.
MABON: este deus ficou muito famoso através dos escritos de autores neopagãos que costumam colocá-lo como deus da juventude, do amor e das nascentes dos rios em virtude de seus mitos. Mas este deus é muito mais misterioso do que se imagina, sua regência tem forte relação com espíritos dos mortos e espíritos da terra, entre outras coisas mais densas (...).
MODRON: outra deusa materna que, diferente de Dôn, rege aspectos mais humanos referentes a fertilidade feminina (para gerar filhos), o amor e o romance e um novo ciclo referente a esses aspectos: nascimento de uma criança, casamento e família.
RHIANNON: toda tradição tem sua realeza, esta é a nossa, Rhiannon é a nossa deusa-Rainha, isso não a torna mais importante que os outros deuses do ofício, mas destaca sua majestosa regência sobre a alegria, os bons resultados, o trabalho, as mudanças favoráveis, a fertilidade em todos os sentidos e, claro, dos feitiços que favorecem tais coisas. Deusa dos cavalos.
SUCELLUS: deus do início favorável, em seu mito esse poder é retratado pelo seu martelo que o mesmo bate no solo para despertar a primavera, ele desperta e movimenta ou inicia as coisas boas, a prosperidades e os bons fluídos. Contudo, seu martelo também pode ser maléfico aos inimigos, seu nome significa "Atacante" e ele também está relacionado com a guerra e suas batalhas.
TARANIS: famoso deus do trovão e dos relâmpagos também atrelado a guerra como grande mestre das batalhas, mas este deus é muito mais que isso, ele é um dos poucos que nos observa de cima, e não somente a nós, mas ambos os mundos, sua visão é ampla e amplo é o seu saber, há coisas que só ele sabe, há coisas que só ele vê. Por isso ele rege a intuição e a adivinhação também. Seu símbolo é a Roda.
Exite Deus/a Regente?
Sim! Mas claro que é diferente da deusa madrinha do Wicca e do orixá do orí do Candomblé. 13 dos deuses citados a cima regem - cada um - uma das 13 luas do calendário da nossa Tradição, logo, a depender da lua de seu nascimento você é considerado filho/a daquela divindade em virtude de ter nascido sob a regência daquela energia natural que consequentemente influencia na sua personalidade, poder pessoal, elementos de poder e um monte de detalhes bem individuais. Mas isso só pode ser verificado por um magister do nosso Clã, pois carece de um calculo muito bem feito com base em nosso calendário lunar tradicional. Cada divindade está atrelada a animais específicos, planta específica, elementos e manifestações naturais e mágicas específicas, e, consequentemente, regem pessoas específicas. Diferente do Wicca não se trata de um casal divino, apenas uma divindade (feminina ou masculina) rege sua lua de nascimento. Diferente do Candomblé não existe juntó ou ajuntó, como disse, apenas uma divindade rege cada lua. Existe uma segunda divindade que rege o indivíduo na Bruxaria, ela é diferente da divindade regente da lua que rege a personalidade e energia da pessoa independente de ser bruxa ou não, mas a segunda rege a pessoa no ofício e tudo que ela rege tem relação com as potências mágicas e dons do bruxo, mas sobre ela só falarei para integrantes do Clã.
Atenciosamente,
Roberto Trinovantes