sábado, 20 de maio de 2017

RHIANNON - Nossa Padroeira

SÍNTESE:


> Senhora do Clã - Deusa Padroeira - Rainha dos Trinovantes (...)

Em algumas tradições de Bruxaria Tradicional a existência de uma divindade padroeira é muito comum, isso se dá por conta da natureza do ofício bruxo..., mas antes de prosseguir com esse texto preciso alertar para que não misture as coisas, alguns covens do Wicca escolhem uma divindade que vai está a frente do grupo ou realizam técnicas neo-xamânicas (viagens imaginativas ou jornadas psíquicas...) para afirmar que tal divindade se "revelou", na Bruxaria Tradicional é diferente, pois é uma questão de tradição mesmo e de evidências históricas. Não confunda também com divindade regente, existe uma diferença enorme entre um regente (lunar ou de uma casa) para um padroeiro.

Uma divindade padroeira rege o Clã e o Clã é dirigido pela sua essência espiritual e energética, é a força ancestral e divina que orienta e protege o Clã, e para ela que o ofício bruxo é primeiramente devotado dentro do Clã. A natureza do ofício bruxo está no culto afunilado onde o bruxo tradicional dedicava seu caminho na relação com ela, não enquanto servo (que isso esteja, claro!), mas enquanto um ser que admira outro e quer aprender com sua essência.

O símbolo-animal dos trinovantes é o cavalo, em suas moedas e em vários outros achados o cavalo está presente. Como se pode perceber este mesmo animal está presente no brasão do nosso Clã representando a manifestação de sua essência divina, ou seja, Rhiannon.


RHIANNON:


Ela é uma entidade muito importante no Mabinogi (conjunto de manuscritos medievais da história do País de Gales e Grã-Bretanha) aparecendo na primeira e terceira parte do mesmo. É caracterizada como uma mulher do Outro Mundo e mentalmente forte que escolhe o príncipe de Dyfed (oeste do País de Gales), Pwyll, como seu marido, preferindo ele em vez de outro homem a quem está prometida. Famosa pela sua inteligência, talentos de estratégia (especialmente na política), e, também por sua riqueza e generosidade. Seu primeiro filho com Pwyll foi o herói Pryderi que em outros tempos ocupa o trono de Dyfed. Décadas depois, Pwyll morre, e ela se casa com Manawydan estabelecendo laços com a família real britânica.

Na primeira parte do Mabinogi Rhiannon é fortemente relacionada com os cavalos assim como seu filho Pryderi, alguns estudiosos a relacionam com a deusa Epona por conta de algumas semelhanças como a questão de ser representada junto com seu filho como uma égua e um potro. Contudo, o historiador geral Ronald Hutton é cético quanto a este ponto.


MITO:


Mabinogi - Parte 1:

Sua história está atrelada ao ancestral monte Gorsedd Arberth localizado próximo ao centro de Dyfed (no País de Gales), ela aparece nesse monte para o príncipe Pwyll e sua corte enquanto uma maravilha prometida e também como um ser do Outro Mundo, ela apareceu montada em um cavalho branco brilhante como uma belíssima mulher vestida de brocado e seda dourada. Rhiannon é muito rápida ao galopar, por isso Pwyll seleciona seus melhores cavaleiros para competir com ela e todos acabam por perder, então o próprio príncipe decide competir com ela e também é vencido.

Ela revela a Pwyll que o procurou para casar-se com ele, e, claro, ele concorda, mas ela fala que estava prometida a outro homem chamado Gwawl, mas que não desejava casar com ele. Quando é chegado o dia da festa de casamento Gwawl disfarçado faz com que Pwyll dê sua palavra de que realizaria qualquer desejo dele, é quando Gwawl se revela e diz que seu desejo é Rhiannon. Ela é levada por ele, mas repreende Pwyll por suas estúpidas promessas. Talentosa quando o assunto é estratégia ela planeja com Pwyll e seus soldados uma emboscada para Gwawl no dia da festa do casamento com ele, no dia ela encanta um saco para que o que seja colocado dentro do saco cai dentro de um vácuo sem saída, Pwyll se disfarça de mendigo e entra na festa com o saco em mãos pedindo para que Gwawl coloque comida no saco, nesse momento os soldados de Pwyll cercam Gwawl que para salvar sua vida é obrigado a renunciar a Rhiannon e a sua vingança para sempre. Naquela mesma noite ela se casou com Pwyll e retornou para Dyfed como sua rainha.

Passam alguns anos felizes juntos até que Pwyll passa a ser cobrado pelos seus nobres para que gere um herdeiro, ele vinha tentando durante esses anos, mas ainda não havida dado resultado então os nobre pediam que ele deixasse Rhiannon. Pwyll se nega a deixar sua amada e três anos depois nasce Pryderi. A alegria não dura muito, pois, por conta de um deslize das cuidadoras do recém-nascido, o menino desaparece. As empregadas que cuidavam da criança, com medo de serem mortas, matam um cachorro e - enquanto Rhiannon dormia - melam o rosto da rainha com o sangue do cão fazendo com que no dia seguinte ela seja acusada de ter assassinado o próprio filho e ter cometido ato de canibalismo. O conselho do reino decide que Rhiannon deve ser punida e os nobres novamente protestam contra o casamento dela com Pwyll exigindo que ele a deixe, ele se nega e se oferece para ser punido no lugar dela, mas ela é punida a contar sua história todos os dias para os viajantes e, embora nem todos aceitassem, se oferecer para leva-los em suas costas como burro de carga.

O senhor de Gwent Is Coed, sudeste do País de Gales, Teyrnon é quem acaba resgatando o recém-nascido. Ele era dono de várias éguas que costumavam das a luz a potros na época das luas do sangue e da semente (Beltane), ao observar um potro que acabara de nascer viu uma mão monstruosa tentar capturar o animal e a cortou com sua espada, correu e viu que tinha ferido um monstro que escapou deixando uma criança recém-nascida. Ele acolheu a criança e junto com sua esposa quis dar ao menino um nome e o seu sobre nome: Gwri Wallt Euryn (Guri significa "o de cabelo dourado"), o menino cresce de sobre sobre-humana até Teyrnon - que, no passado, trabalhou para Pwyll - percebe a semelhança do menino com seu pai e resolve leva-lo para a casa real em Dyfed devolvendo-o.

Com seus filhos nos braços finalmente Rhiannon faz a sua nomeação de forma tradicional com um jogo de palavras que formara o nome Pryderi que teve origem em palavras como "cuidado", "perda", "entregue" ou "preocupação". Em seu devido tempo Pwyll morre e Pryderi assume o trono de Dyfed e casa-se com Cigfa de Gloucester.

Mabinogi - Parte 3:

Ao retornar das terras irlandesas Pryderi é um dos sete sobreviventes dos desastres ocorridos lá, ele e seu grande amigo Manawydan, juntos cumprem o dever de enterrar a cabeça do rei morto da Grã-Bretanha em Londres (Bran the Blessed) para manter o país protegido das invasões, contudo, o sobrinho de Manawydan, Caswallon, aproveitou a ausência deles e usurpou o trono da Grã-Bretanha. Mas Manawydan estava cansado de guerras e não desejava travar batalhas pelos seus direitos reais, Pryderi o recompensou com seus feitos dando-lhe terras em Dyfed e tramando o casamento do melhor amigo com sua mãe, Rhiannon, que casaram-se com amor e respeito. Pryderi herdou de sua mãe os talentos estratégicos na política e teceu homenagens ao usurpador (Caswallon) em Dyfed para evitar sua qualquer hostilidade.

Nessa parte do Mabinogi Manawydan torna-se, junto a Rhiannon, Pryderi e Cigfa, um dos personagens principais.


ETIMOLOGIA:


Rhiannon deriva, provavelmente, do brittonic reconstruído Rigantona que deriva de Rigan - rainha.


ENDEUSADA:


Rhiannon está tradicionalmente atrelada a três pássaros míticos conhecidos como "aqueles que acordam os mortos e acalmam os vivos até eles dormirem", são os Adar Rhiannon (pássaros de Rhiannon) que são citados na segunda parte do Mabinogi nas tríades da Grã-Bretanha e de Culhwch ac Olwen, e, para muitos, esse é um forte indicio de que Rhiannon é uma deusa do antigo politeísmo celta. Há, claro, autores como WJ Gruffydd (escreveu Rhiannon, 1953) e Proincias Mac Cana  que afirmam haverem mais alegações que testificam este fato.


- Roberto Trinovantes

domingo, 14 de maio de 2017

Beli Mawr

PAN-CÉLTICO:


Quando é dito que uma divindade é "pan-céltica" isso quer dizer que esta divindade existe em várias tradições célticas, o nome da divindade geralmente é semelhante, mas ainda é diferente assim como é diferente também a forma de compreendê-la e de trabalhar com ela naquela tradição, ou seja, diversos aspectos energéticos mudam em virtude da ancestralidade daquela tradição. Por isso, o sincretismo não é algo positivo, mesmo que seja dentro do mesmo panteão, é algo que enfraquece a manifestação da divindade a nível energético e espiritual. Não é divindade que é "fraca", mas o que o humano faz com as memórias ancestrais referentes a mesma (sincretismo) dissipa a ligação do conjurador com a verdadeira essência antiga daquela divindade.

SÍNTESE:


Beli Mawr é conhecido em outras tradições como Belenos, Belinus e Bel. Se tornou o patrono da cidade italiana de Aquileia no séc. III, suas memórias mais antigas são irlandesas onde é compreendido como deus-Sol, na Tradição Britânica Beli é o primeiro ancestral, ou seja, o primeiro a tornar-se um espírito da terra estando fortemente atrelado ao Reino dos Mortos e ao Outro Mundo. Na Tradição Britânica a lua que ele rege desponta sempre no período do Beltane, mas muitos o associam a este festival do fogo de forte ancestralidade irlandesa em virtude das três primeiras letras do título: BEL. Seu animal é o cavalo e seu símbolo é a roda de oito raios.

ANTIGOS CULTOS:


Existem mais de 50 inscrições dedicadas a este deus que são encontradas principalmente em Aquileia, Noricum e Galia Narbonensis, mas também na Grã-Bretanha e Ibéria. As representações da imagética desse dele geralmente o retratam com uma fêmea ao seu lado que estudiosos pensam ser a deusa Belisama (ao meu ver a teoria só está errada na escolha da divindade feminina).

Belenus é identificado como deus nacional de Noricum nos inscritos de Tertuliano datados de 200 AEC. No século III os imperadores romanos Diocletian e Maximian dedicaram inscritos a este deus em Aquileia. Nas cidades de Altinum, Concordia e Lulium Carnicom foram encontradas mais seis inscrições votivas à Belenus. Maximus Thrax sitiou a cidade de Aquileia em 238 com batalhões de soldados que afirmaram ter visto uma aparição do deus defendendo a cidade.


ETIMOLOGIA:


Existem diversos apontamentos incertos sobre a etimologia do nomes deste deus. A mais coerente é: Guelenos do proto-celta que significaria "fonte, poço" o que pode ter relações com fontes de conhecimento, o Outro Mundo e, com certeza, com a sabedoria ancestral. Beli Mawr, do galês, significa "Beli, o Grande".


NOMES E SUAS DERIVAÇÕES:


Llywelyn é um nome galês que combina Llew e Beli.
Cunobelinus foi o nome de um rei britânico que significa "cão de Belinus", houve também um rei chamado Belinus em Geoffrey of Monmouth que é citado em Histórias dos Reis da Grã-Bretanha.
Diodorus Siculus nomeado Cornwall (Cornovii que está relacionado com "chifre") Belerion foi o primeiro nome de lugar gravado nas Ilhas Britânicas.


- Roberto Trinovantes